A diversidade de temas iconográficos aos quais a obra e seu delicioso título podem ser associados é indicativa de sua ambiguidade. Um jovem elegantíssimo, contempla ausente, entre impassível e amuado, a fumaça de seu charuto, em uma atitude inflexível em relação ao choro algo novelesco de sua parceira. A rosa despetalada assume, aqui, ao mesmo tempo, uma função de metonímia e de metáfora do que a cena dá a ver: um arrufo. O Dicionário Houaiss define o termo como “agastamento ou mágoa de pouca duração entre pessoas que se estimam”. Mas quem são estas pessoas e, sobretudo, qual a relação existente entre elas? Parece mais difícil ver aí uma cena de amor conjugal no universo doméstico que uma cena entre amantes, tais são a sensualidade do ambiente e a elegância de verdadeiro dandi do personagem masculino, características pouco adequadas ao caráter prosaico de um living-room burguês.
Considerado por Gonzaga Duque, em seu livro Arte Brasileira, como o mais importante quadro executado até então no Rio de Janeiro, pela sutileza e verdade psicológica, Arrufos é efetivamente a obra-prima de Belmiro de Almeida.
Luiz Marques
25/05/2010