“Localização inventarial: inv. n. 742
Uma inscrição nesta estela – uma das mais belas da arte grega – identifica o defunto e seu pai: Demôcleides, filho de Demétrios. Trata-se de um hoplita, soldado da infantaria ateniense, sentado sobre a proa de uma embarcação, da qual se destaca o acrostolion curvo e os dois esporões, típicos dos navios de guerra. Escudo e capacete jazem sem mais serventia ao lado do adolescente náufrago, cuja posição, com a cabeça inclinada e apoiada sobre a mão, é caracteristicamente a do melancólico.
Alain Pasquier, seguindo uma observação de Jacquie Pigeaud, remete o significado poético desta imagem à Ode I, XXVIII de Horácio, que evoca de modo pungente o clima melancólico dessas estelas funerárias:
“”A ti, mensurador do mar e da terra e do número infinito
dos grãos de areia, retém, ó Árquitas, perto do litoral do
Matinus o pequeno dom de um punhado de terra; e de nada te serve ter tentado as moradas aéreas e explorado a abóbada celeste com um`alma destinada a morrer.
Morreram também o pai de Pélops, comensal dos deuses, e Titon, levado ao céu, e Minos, admitido aos arcanos de
Júpiter; e o Tártato possui o filho de Panto, novamente
restituído ao Orco, ainda que, atestando com o escudo
ter vivido nos tempos de Tróia, e como grande autoridade
da natureza e da verdade, segundo teu juízo, nada concedeu ele à morte se não os nervos e a pele.
Mas a todos uma mesma noite espera e deve ser trilhado o mesmo letal caminho. As Fúrias dão alguns aos espetáculos do turvo Marte, aos navegantes é tumba o ávido mar; dos velhos e jovens se sucedem os mistos funerais. De Proserpina ninguém escapa.
A mim também o Notus, companheiro impetuoso do declínio de Orion, submergiu nas ondas ilíricas. Mas tu, ó navegante, não negues malevolamente um pouco da móvel areia aos meus ossos e à cabeça insepulta””.
Luiz Marques
24/05/2010
Bibliografia
2005 – A. Pasquier, in J. Clair, Mélancolie. Génie et folie en Occident. Catálogo da exposição. Paris, p. 49″