Em um nicho decorado com uma máscara e festões, a figura
semi-nua, de costas, mede com um compasso uma coluna. Seu pé
direito apoia-se sobre a base da coluna ensaiando um
movimento ascensional, acentuado pelo magnífico cetim rosa
semi-transparente que o envolve, cujas pregas evoluem em
espiral ascendente. Em contraponto com ele, a lã verde
desenvolve-se em um movimento mais independente do corpo,
ainda que sempre ascensional. A seus pés, um fragmento de
coluna desponta possante em escorço.
Tendo por pendant uma Alegoria de Pitágoras*, esta
Alegoria de Euclides decorava em 1545 as laterais de um
órgão da igreja de S. Giovanni Evangelista em Parma.
A geometria euclidiana com sua Razão áurea é uma referência
capital nas artes centradas nas proporções aritméticas e
notadamente na música e na arquitetura, artes desde sempre
intimamente associadas, de Platão a Paul Valéry.
O binômio Pitágoras / Euclides (ou Arquimedes) fora já
empregado por Rafael no afresco da “Escola de Atenas”,
executado em 1508 na Stanza della Segnatura no Vaticano.
Tendo ali por numes emblemáticos, respectivamente Apolo e
Minerva, estas duas figuras exprimem as equivalências
aritméticas e metafísicas entre música e matemática,
descoberta por Pitágoras e Platão e retomadas pelo
neoplatonismo dos séculos III e IV, de Plotino a Jâmblico e
Proclus e, enfim, no século VI, no De musica de
Boécio.
Luiz Marques
13/12/2011
Bibliografia:
1995 – L. Fornari Schianchi, “Figura allegoria maschile
seduta con bilancia e martelli (Pitagora)”. In, L. Fornari
Schianchi, N. Spinosa, I Farnese. Arte e Collezionismo,
Catálogo da exposição, Parma, Nápoles, Munique. Milão:
Electa, pp. 224-226.
2000 – L. Marques, “Le Origini della Musica”. In, S. Ferino-
Pagden, Dipingere la Musica, Catálogo da exposição, Cremona
e Viena. Milão: Skira, pp. 37-42.