“Localização inventarial: inv. G.K. 571
Há duas identificações do tema deste quadro. Em um leilão da coleção do Burgomestre Willem Six (1734), ele seria assim intitulado: “”História de Sofonisba, de Guercino del Cento, pintado à maneira de Guido Reni””. A atribuição errônea a Guercino seria facilmente explicável por se tratar de um quadro juvenil de Vouet, efetivamente guerciniano.
De outro lado, em 1635, o pintor Antonio della Cornia elenca-o no inventário das coleções ducais de Turim como: “”Agripina com o soldado que lhe apresenta o veneno em uma taça, meias-figuras””. A esta identificação, embora proposta por um próximo de Vouet, pode-se opor a objeção de que nem Tácito (Anais, XIV,3-9, nem Suetônio (Nero, XXXIV) narram que Agripina morreu envenenada (versada que era em antídotos), mas sim pelas mãos dos homens de Aniceto, comandante da frota de Misenus e fiel preceptor de Nero. A cena do assassinato da mãe de Nero é assim descrita por Tácito:
“”Voltando-se [Agripina] viu Aniceto acompanhado pelo trierarca Erculeio e pelo centurião de marinha Obarito. Disse-lhe que, se viera visitá-la, podia anunciar seu restabelecimento [do naufrágio, urdido por Nero]; se para cometer um delito, que ela não podia duvidar do filho: não se ordena um matricídio. Cercam seu leito: o trierarca golpeia-lhe a cabeça com um bastão. Ao centurião que levantava o ferro, ela diz, apresentando o ventre: – Golpeia o útero! E foi trucidada por muitas feridas”” (multisque vulneribus confecta est).
Dado que Tácito e Suetônio eram frequentadíssimos no século XVII, inclusive como fontes da dramaturgia coeva, a identificação do quadro com uma Morte de Sofonisba parece mais plausível. O tema é, de resto, muito mais recorrente no século XVII que a morte de Agripina, celebrado que foi por Tito-Lívio e pela tragédia de Trissino.
Luiz Marques
12/05/2010
Bibliografia
1990 – J. Thuillier, B. Brejon de Larvergnée, D. Lavalle, Vouet. Catálogo da exposição, Paris, Grand Palais, p. 191″