“A história de Sofonisba é narrada por Tito-Lívio (XXX, xiv-
xv). Ela se passa durante a segunda Guerra Púnica (218 – 201
a.C.), concluída com a derrota de Cartago e a posterior
morte de Anibal.
Filha de Asdrubal, o general cartaginense (não se trata do
irmão de Anibal), Sofonisba foi dada em casamento a Sifax,
rei da Numídia (reino berber situado no litoral da atual
Argélia), em uma manobra diplomática que visava compor uma
aliança contra os romanos. Mas Sifax é derrotado por Públio
Cornélio Cipião, que coloca Massinissa (pai de Jugurta) no
trono da Numídia.
Massinissa apaixona-se e casa-se com Sofonisba, mas é
instado no mesmo dia a consigná-la a Cipião, que deseja
enviá-la a Roma, temeroso de que a terrível inimiga dos
romanos – responsabilizada por Sifax por sua guerra contra
eles – conseguisse afastar também Massinissa da aliança com
Roma. Para não a enviar aos romanos, Massinissa envia por um
servo uma taça de veneno a Sofonisba, que o toma, dizendo:
“”Aceito o dom nupcial, nem me é ele desagradável, se nenhum
outro maior o esposo pôde oferecer à esposa; diga-lhe
todavia isto: que melhor morreria se não me tivesse esposado
no dia dos meus funerais””.
Desde Boccaccio e Petrarca, o suicídio feminino é um
topos comum a diversos gêneros, em que heroínas
legendárias e históricas, como Alceste, Dido, Lucrécia,
Sofonisba, entre outras, são confundidas num só e mesmo
registro do amor perdido ou da salvaguarda da honra.
Pelo suicídio, neste âmbito, a mulher igualava-se ao valor
do homem em um oxímoro pertencente ao apreciado lugar-comum
do corpus tener / fortis animus (corpo débil / forte
ânimo). Assim, Petrarca, Fam. XXI, 8,28 escreve:
“”Prefiro nem falar de muitas de nossas jovens, de ti bem
conhecidas, (…) que com débeis corpos e fortes ânimos
suportaram duros suplícios, duras mortes””.
A obra de Mantegna foi considerada por vezes uma alegoria do
Outono, em pendant com a Tucia do mesmo museu,
considerada uma alegoria do Verão.
A iconografia da Morte de Sofonisba, inaugurada decerto por
Mantegna (embora possivelmente já presente em alguns
cassoni), é retomada no início do século XVI por
artistas como Giampietrino* e Caroto*, atingindo seu apogeu
no século XVII, no âmbito do neoestoicismo triunfante.
Luiz Marques
11/05/2010″