Localização inventarial: inv. 167
Trata-se de um relevo que ornava um dos lados menores de um sarcófago do tipo chamado “em guirlandas”, de desconhecida proveniência. Dois meninos nos cantos do sarcófago suportam uma robusta guirlanda de frutas e folhas acima da qual se representa uma cena do Rapto de Proserpina por Plutão sobre sua quadriga. A cena é carregada de forte dramaticidade, com o contraposto entre Proserpina, violentamente arrebatada por Plutão, e os quatro cavalos empinados, mas subjugados por Mercúrio.
Divindade itálica originalmente agrária e vinculada à germinação, Proserpina é cedo assimilada ao mito grego de Perséfones, que lhe comunica seu caráter ínfero e funerário. O rapto de Proserpina, prometida por Júpiter a Plutão, deixa sua mãe, Ceres (ou Demeter na tradição grega), tão desconsolada, que esta descuida das plantações, deixando os homens na penúria. Júpiter permite então à Proserpina que passe apenas parte do ano nas profundezas da terra, reunindo-se durante a outra parte do ano com sua mãe, à luz do sol. O mito, cristalina metáfora da semente plantada no outono e germinada na primavera, tem aqui seu inequívoco significado funerário reforçado pela presença de Mercúrio Psychopompos, condutor das almas ao Hades.
A altíssima qualidade do relevo permite supor um comitente romano prestigioso, talvez ligado à corte antonina. O relevo não destoa da magnificência do connaisseur que foi Giovanni Grimani (1500-1593), cuja coleção de antiguidades –
tal como a de seu mas famoso tio, o Cardeal Domenico Grimani -, foi doada à Serenissima, após ornar por anos seu Palácio de Santa Maria Formosa em Veneza.
Luiz Marques
22/05/2010
Bibliografia
2004 – A. Bollato, in I. Favaretto, M. De Paoli, M.C. Dossi, Museo Archeologico Nazionale di Venezia. Milão, Electa, p. 92