Em 16 de junho de 1826, Sir Walter Scott (1771-1832) escreve em seu diário acerca de duas gravuras deste retrato a ele ofertadas:
Sir Henry Raeburn´s portrait of me which, poor fellow, was the last he ever painted and certainly not his worst.
“Meu retrato de Sir Henry Raeburn, pobre amigo, foi o último que ele pintou e certamente não o pior deles”
O retrato não fora encomendado por Walter Scott, mas nascera de um projeto do próprio pintor que pensava destiná-lo à sua coleção. Para o alívio do escritor, que em 1826 detinha a obra, esta escapara do leilão dos pertences de Raeburn, falido pouco antes de morrer:
I do not care much about these things, continua Scott em seu diário, yet it would have been annoying to have been knocked down to the last bidder even in effigy.
“Não me importo muito com essas coisas, mas teria sido desagradável ter sido pechinchado para o último ofertante, mesmo em efígie”.
Embora combalido por sua doença, o grande mestre escocês mostra-se em sua última obra absolutamente senhor de seus meios. A corrente dourada que perpassa seu colete, por exemplo, é de uma verdade e de uma materialidade quase ilusionística. Ela não fica em nada a dever à tradição da retratística holandesa, de que a inglesa deriva, mas há muito se libertara.
Por outro lado, a cabeça de Scott é construída com um empaste denso e com as mais delicadas veladuras, graças aos quais ela emerge do fundo banhada em uma luz idealizada que confere ao semblante do escritor o vigor e o sublime de uma personalidade eleita.
O retrato viria a ser, como nota Duncan Thomson, uma peça-chave na reputação póstuma de Scott.
Luiz Marques
04/01/2011
Bibliografia:
1997 – D. Thomson, Raeburn. The Art of Sir Henry Raeburn. 1756-1823. Catálogo da exposição. Edimburgh, Scottish National Portrait Gallery, p. 193