Registro inventarial: inv. n. 2687
Outrora considerado uma imagem de Lucrezia Borgia, o retrato foi, desde Waagen (1864), considerado o da amante de Rafael, a suposta Margherita Luti, a “Fornarina”, filha de um padeiro (“fornaio”) da contrada Santa Dorotea, em Roma. Mas a semelhança deste semblante com o famoso retrato da Fornarina*, de Rafael, no Palazzo Barberini em Roma, não é suficiente para tal identificação. Gould considera a obra de Moscou “quase um obsceno travesti da Fornarina”.
O tema da jovem nua diante do espelho, em sua toilette, ocorre desde o Quatrocentos, particularmente no perdido retrato de Van Eyck*, cuja cópia encontra-se no The Fogg Art Museum de Cambridge (Mass.), e em Veneza, desde finais do século XV. Ele será frequentemente associado à Toilette de Vênus e como tal conhecerá enorme fortuna nos séculos XVI e XVII.
Entre finais do século XVIII e inícios do XX, este retrato do Ermitage, então pintado sobre madeira, foi serrado na parte central para dela se retirar a cabeça da figura, transformada em um retrato colocado em uma moldura oval. Antes de 1840, data da entrada da obra no museu russo, os dois elementos da tábua foram reintegrados e a pintura foi transplantada sobre tela.
A se admitir que a obra pertença aos anos romanos de Giulio Romano, a retratada deveria ser uma personagem de grande relevo na Urbe, situada como está em um ambiente e em um palácio de grande magnificência, em cuja bela loggia não faltam uma escultura de uma Vênus pudica, uma serva e um macaco, signo da extravagância de corte.
Foi por outro lado cogitado que a obra não seja um retrato, mas uma figura alegórica da Vanitas, caso em que o macaco poderia assumir o significado da luxúria ou, mais geralmente, do pecado.
Luiz Marques
03/12/2010
Bibliografia
1982 – C. Gould, “Raphael versus Giulio Romano: The Swing Back”. The Burlington Magazine, 124, 953, Agosto, pp. 479-487.
1989 – V. Markova, in E.H. Gombrich (dir.), Giulio Romano. Catálogo da exposição, Mântua, Palazzo Te, p. 274