(continuação do texto que acompanha a imagem principal)
Ainda sobre a datação da obra em 1506, pode-se citar outro documento que corrobora a hipótese de que o artista está às voltas com a execução do São Mateus ainda em novembro de 1506.
Michelangelo estava em Roma em janeiro de 1506, como atesta uma carta de Francesco da Sangallo a Vincenzo Borghini, de 1566 (justamente a carta que certifica a presença do artista em Roma quando da descoberta do Laocoonte*), e uma carta ao pai, de 31 de janeiro de 1506; mas estava de volta a Florença em 17 ou 18 de abril de 1506, permanecendo em Florença por ao menos sete meses, sem dúvida até 27 de novembro de 1506, quando partiria para Volterra.
Portanto, o esboço do São Mateus poderia ser convenientemente datado dos meses deste interregno florentino, entre abril e novembro de 1506, cf. Wilde [1950/1978:47].
Barocchi (1962) sublinha a originalidade da observação de Vasari sobre a técnica do desbaste do mármore em planos paralelos, e a insere no tecido conceitual da tratadística quinhentista, no qual a escultura é compreendida como arte do levare, isto é, do “retirar”.
No centro da questão está o soneto de Michelangelo, Non ha l´ottimo artista alcun concetto. Mas esta definição da escultura como arte de levare encontra-se já em Leon Battista Alberti, em seu tratado Della Scultura:
“A escultura é uma arte que, retirando o supérfluo da matéria assujeitada, a reduz àquela forma de corpo que na idéia do artista se desenha”.
Uma quase paráfrase do célebre soneto de Michelangelo encontra-se no manuscrito do Journal de Voyage de Nicolas Audebert, redigido entre 1574 e 1578, que menciona uma anedota a respeito da Noite da Capela Medici. Respondendo a um amigo que lhe perguntara como fizera aquela escultura, o artista haveria respondido, jocosamente:
“Eu não a fiz, mas tinha um mármore no qual estava esta estátua que vedes e não tive outro trabalho que o de retirar o pouco que estava à volta e impedia que se a visse. Tomai de um mármore ou pedra qualquer, grande ou pequena; não há uma só que não contenha em si alguma efígie e estátua, mas é preciso bem saber reconhecê-la, a fim de não se desfazer da estátua, em vez de somente do que a está envolvendo e impedindo sua visão, pois há tanto perigo aqui em retirar demasiado quanto demasiado pouco. Para quem sabe, nada há de mais fácil. E assim mandou seu amigo buscar estátuas nos pedregulhos”.
Em 1568, ano da segunda edição da Vida vasariana de Michelange