As Sibilas são, desde a decorações dos portais góticos franceses no século XII, em geral representadas em grupo e, no mais das vezes, em contraposto com os profetas, em signo de concordância entre a sabedoria grega e a judaica no que se refere ao advento do Cristo e ao seu retorno no Juízo Final.
A partir de meados do século XVI, esse interesse central pela harmonização entre Antiguidade clássica e Cristianismo declina e as Sibilas começam a ser representadas individualmente, como figuras genéricas de sabedoria, com seus turbantes, atributo “exótico” e “oriental”, sem alusão precisa à sua pertinência à cultura grega.
Assim, não é de estranhar que não haja nem mesmo indicações permitindo identificar qual das seis Sibilas mais usualmente representadas (Délfica, Cumense, Eritreia, Líbica, Persa e Tiburtina) Mengs entende representar nesta pintura, executada em Roma em 1761 para um comitente inglês de que se ignora o nome.
Como notado por Steffi Roettgen, esta genérica representação da Sibila, identificada apenas pelo livro e pelo turbante, “lança uma luz característica sobre a abordagem setecentista do tema da Sibila, muito popular desde o Renascimento. Tal interesse parece agora focar-se antes na pintura de uma figura feminina ricamente vestida, sobre um fundo clássico, que em uma específica iconografia. Poder-se-ia facilmente imaginar esta figura também como um retrato idealizado e certamente a pose e a direção do olhar sugerem essa associação”
É evidente aqui a influência de Domenichino. Uma aproximação precisa poderia ser feita, por exemplo, com a S. Cecília do Louvre. De forma geral, Mengs entende manifestar suas afinidades com o Seiscentos bolonhês, o qual, por sua vez, filiava-se programaticamente a Rafael. De fato, sua obra evoca também a Sibila Pérsica de Guercino, outrora na Pinacoteca Capitolina de Roma.
A obra foi copiada em 1762, quando Mengs já deixara Roma, pelo pintor norte-americano, Benjamin West, e gravada em data desconhecida por Nikolaus Mosmann.
Luiz Marques
26/04/2010
Bibliografia
1993 – S. Roettgen, Anton Raphael Mengs 1728 – 1779, and his British Patrons. Londres, Zwemmer, p. 94