Sobre as diversas fontes textuais antigas de Marco Pórcio Catão (95-46 a.C.) e seu suicídio, ver os comentários a seu retrato no Museu de Rabat*, o afresco de Beccafumi em Siena*, de 1519-1520 e as representações seiscentistas do Suicídio de Catão, em especial a do Anônimo napolitano* em Viena e as duas versões do tema por Charles Le Brun*, de 1646.
O Libro dei Conti de Guercino conserva informações sobre a data, o valor (65 escudos) e o comitente desta tela, o advogado de Perugia, Marco Antonio Eugenio, residente em Roma, tal como se lê igualmente no Felsina Pittrice de Malvasia (1678): Al sig. Avvocato Eugenio di Roma un Catone quando s´uccise. Trata-se da versão mais sóbria e menos cruenta do tema, como era de se esperar de um artista formado no “ideal clássico” do Seiscentos bolonhês. De resto, não há notícia de que tal tema tenha sido cultivado pelos pintores bolonheses contemporâneos de Guercino e não surpreende que o comitente da obra não seja um bolonhês.
O mesmo comitente encomenda em 1643 uma Morte de Sêneca com toda a probabilidade para fazer par com este Catão. Tais informações dão uma idéia da amplitude da clientela, composta não apenas de aristocratas, para este gênero de pintura neo-estoica baseado no mais das vezes nas grandes personagens da história de Roma. Ainda em 1643, Guercino pinta outra Morte de Sêneca para o cardeal Antonio Barberini. Destas duas obras conservam-se apenas os desenhos preparatórios.
Trata-se da versão mais contida e menos cruenta do tema, como era de se esperar de um artista formado no “ideal clássico” do Seiscentos bolonhês. De resto, não há notícia de que tal tema tenha sido cultivado pelo pintores bolonheses
O paralelo Catão – Sêneca, vítimas ambos de um imperador, impõe-se com facilidade e era sutilmente sugerido pelo próprio Sêneca. A figura de Catão impõe-se como emblema deste irredentismo em face da tirania já em certa literatura apologética e dramatúrgica desenvolvida entre os principados de Nero (54-68) e Domiciano (81-96), de que dá testemunho, por exemplo, o exórdio do Dialogus Oratoribus de Tácito.
Luiz Marques
13/02/2010
Bibliografia:
1991 – D. Mahon, Giovanni Grancesco Barbieri, Il Guercino, 1591-1666. Catálogo da exposição, Bolonha, p. 240