Entre os pintores alemães de sua geração, e mais ainda
talvez que Caspar David Friedrich (1774-1840), Philipp Otto
Runge (1777-1810) distingue-se por seu temperamento
especulativo e seus interesses teóricos e filosóficos,
situados na confluência de sua educação luterana, firmada
na convivência juvenil com o teólogo e poeta Ludwig Gotthard
Kosegarten (1758-1818), e de certo panteísmo romântico.
Sua teoria da cor, elaborada a partir de 1806 em diálogo
epistolar com Goethe, foi de grande inspiração para os
artistas germânicos do século XX, e nomeadamente para Paul
Klee.
Ademais sua ideia de “obra de arte total”, para a qual
cunhou a célebre expressão Gesamtkunstwerk, vale-lhe
hoje maior reputação que sua obra pictórica propriamente
dita.
Mestre na arte do recorte de silhueta, muito apreciada na
Alemanha nesse período, Runge inspirou-se com muita
frequência em temas de origem literária e, em especial, em
poesias de Friedrich Gottlieb Klopstock (1724-1803),
patriarca da poesia nacional alemã, que ele chegou a
conhecer pessoalmente.
Entre 1801 e 1803, Runge estreita relações com Caspar David
Friedrich e com os poetas Friedrich Schlegel e Ludwig Tieck,
que o introduz na mística de Jacob Böhme, de grande
importância para o romantismo alemão. Estuda então algumas
pinturas da Gemäldegalerie de Dresden, onde o impressiona em
especial a “Madona Sistina” de Rafael.
Sempre em Dresden, entre 1801 e 1803, Runge pinta uma
primeira versão (destruída) da “Lição de Música do
Rouxinol”, de que se conserva esta segunda versão de 1804.
Valendo-se para a figura de Psiquê da fisionomia de sua
esposa, Pauline Bassenge, com a qual o pintor se casa em
1804, a pintura ilustra um poema de Klopstock que tem por
tema o amor como uma força educativa e fecundante da
natureza.
Luiz Marques
25/10/2011
Bibliografia
1996 – J. Traeger, Philipp Otto Runge, The Grove Dictionary
of Art, vol. 27, ad vocem.
1996 – G. Bott, Simboli e miti del romanticismo tedesco. La
pittura tedesca. Milão: Electa, pp. 353-397.