(continuação do texto que acompanha a imagem principal)
Assim como a Madonna della Scala, a Virgem é novamente uma Madona trágico-sibílica. A rotação que sua cabeça descreve, sua fisionomia inquieta e o gesto de proteção traem a apreensão pela sorte futura do Filho. O querubim que adorna seu diadema aparece já na Madona em bronze de Donatello, na igreja del Santo, em Pádua e em outra, de Antonio Rossellino, na National Gallery de Washington.
Cinquenta anos depois, Michelangelo retorna ao tema do diadema adornado por um querubim, com o significado profético a ele associado, no desenho da coleção do duque de Portland, em Londres, a assim chamada Madona do Silêncio.
Segundo Barocchi (1962), o querubim designa na Hierarchia Coelestis vii, 1, do Pseudo-Denis Areopagita (século VI), o “dom do conhecimento”, no sentido de faculdade profética. Em 1951, Tolnay retoma a análise iconográfica da obra, observando que, assim como no Tondo Taddei, há aqui similaridades com relevos antigos, sendo possível detectar no gênio funerário do assim chamado Sarcófago de Fedra ou da Contessa Beatrice, no Camposanto pisano, o provável modelo do Menino Jesus.
Luiz Marques
22/01/2011
Bibliografia:
1932 – – J. Wilde, “Eine Studie Michelangelos nach der Antike”. Mitteilungen des kunsthistorischen Institutes in Florenz, IV, pp. 41-64, p. 60.
1943 – C. de Tolnay, Michelangelo. Volume I: The Youth of Michelangelo. Princeton University Press, 1969, pp. 160-161.
1951 – C. de Tolnay, Michelangiolo. Florença.
1985 – C. Sisi (e colab.), Michelangelo e i maestri del Quattrocento. Catálogo da Exposição. Florença, Casa Buonarroti. Florença: Cantini, p. 62.
1995 – C. Lanfranc de Panthou (col.), Dessins italiens du Musée Condé à Chantilly. Paris, RMN, p. 126