Localização inventarial: 71 F
Mesmo que não se possa associá-lo à Madona da Capela Medici*, esse desenho, com potentes efeitos de relevo e de non-finito, é o que, cronologicamente, mais se aproxima do período de maturação da composição da Madona Medici, desde o momento da encomenda do bloco em 23 de abril de 1521. De resto, seus graus de finição, progredindo do primeiro ao último plano, assemelha-se à técnica de desbaste do mármore empregada por Michelangelo.
Se a Virgo lactans, a Madona no ato de aleitar seu filho, é comum na história da arte, o motivo da rotação do torso do Menino em sôfrega busca do peito da mãe é raríssimo na história da iconografia marial. Ele é, contudo, um dos motivos mais recorrentes na obra de Michelangelo.
A persistência desse motivo por quase meio século – fenômeno único na obra de Michelangelo – foi objeto de diversas cogitações de cunho psicanalítico, dada a perda de sua mãe na idade de apenas seis anos. A ideia insinua-se já em Benedetto Varchi, cf. Due Lezzioni [1549/1960:22], depois em Taine e, recentemente, em Joannides.
Pode-se aplicar a esse desenho o que notou Paola Barocchi a respeito da Madona Medici. A estudiosa acentua o caráter volitivo da figura do Menino Jesus ao compará-la com um terceto do canto XXX (82-84) do Paraíso de Dante:
Non è fantin che sì subito rua
Col volto verso il latte se si svegli,
Molto tardato da l`usanza sua
Não há infante que não se projete / Em direção ao leite, se desperta / Mais atardado do que é seu hábito
Luiz Marques
20/07/2010
Bibliografia
1985 – A. Cecchi, A. Natali, L. Berti, Michelangelo. I disegni di Casa Buonarroti. Catálogo coordenado por L. Berti. Florença, p. 130