A grandeza heroica que Michelangelo infunde em suas figuras manifesta-se com particular intensidade. A Virgem conquista epicamente o espaço com o ombro direito e sua cabeça rompe os limites da circunferência, enquanto o Menino inclinado sobre o livro intui, quase cinquenta anos antes de sua descoberta, a melancólica majestade do Hércules Farnese*.
Ao contrário do Tondo Taddei*, onde se viu em geral a dívida a Leonardo, o Tondo Pitti suscitou analogias com obras de Jacopo della Quercia, notadamente a figura da Sapienza, na Fonte Gaia do Palazzo Pubblico de Siena.
Tolnay [1943:161] pôs em relação com esse tondo um minúsculo esboço preparatório conservado no Musée Condé de Chantilly*. A posição da Virgem resultaria de uma meditação sobre as diversas articulações entre a Virgem e a Sant´Ana, propostas por Leonardo em seus desenhos e pinturas da Sant´Ana, a Virgem e o Menino, no Louvre.
Mas Michelangelo parece sobretudo inspirar-se em uma Sibila do púlpito de Giovanni Pisano na igreja de Sant´Andrea em Pistoia, sendo esta figura o mais importante ponto de partida para a difícil posição da Virgem no Tondo Pitti.
Parecem ter escapado à crítica as relações do Tondo Pitti com outra obra de Giovanni Pisano, ou de seu círculo imediato: o tondo marmóreo da Virgem com o Menino Jesus*, hoje em Empoli no Museo della Collegiale. Trata-se, em minha opinião, da mais direta referência a Giovanni Pisano em toda a obra de Michelangelo.
Desconhece-se a origem desse notável tondo de Empoli, atribuído por vezes a Tino di Camaino, mas a Giovanni Pisano por Middeldorf-Kosegarten [1969], que o considera obra juvenil e o data dos anos 1270-1275. A atribuição e a datação foram acolhidas por Carli [1977:64].
Nascido após 1450, o comitente da obra, Bartolomeo Pitti, era membro de uma eminente família florentina Residente nas vizinhanças da atual Piazza Pitti. Seu avô havia sido gonfaloniere di giustizia e seu tio avô, Luca Pitti, construíra o célebre palácio que leva o nome da família.
(continua no texto que acompanha o detalhe da obra)