Localização inventarial: Inv. 837.I.98
Giotto, na Capela Scrovegni (1304-1305), parece ser o
primeiro a associar à figura da Prudência o espelho, noção
socrática por excelência ao identificar a primeira das
quatro Virtudes Cardinais com o conhecimento de si. Ao lado
da espelho, a serpente é o segundo atributo desta virtude.
O quadro de Vouet liga-se ao renovamento dos aposentos do
Palácio que Richelieu lega à coroa, nova residência da
rainha e Regente Ana de Áustria (1601-1666), após a morte de
Luís XIII, seu marido, em 1643. Um contrato de 1645 estipula
que sobre a lareira da alcova da Regente deva figurar um
quadro de Vouet representando a Prudência: la Prudence
qui avec l`amour et les Grâces aura réduit le monde sous son
obéissance (a Prudência que, com o amor e as Graças,
terá reduzido o mundo à sua obediência).
Na imagem refletida no espelho pode-se discernir o retrato
da Regente. Segundo Thuillier, a presença das Três Graças
poderia aludir ao poder de sedução de Ana de Áustria, já
então com 44 anos, mas capaz de manter a ela vinculado “o
homem mais genial de seu séquito”, o cardeal Mazarin, cuja
fidelidade pode ter ido até o casamento secreto.
A presença do Tempo em tais alegorias alude em geral à
faculdade da Prudência de prever o futuro. Mas, aqui, o
Tempo parece recuar como que vencido, isto é, como que
desprovido de seu poder de envelhecer, o que tenderia a
reforçar a hipótese do estudioso francês segundo a qual a já
madura Infante de Espanha manteria intocados seus encantos.
Luiz Marques
16/05/2010
Bibliografia
1990 – J. Thuillier, B. Brejon de Lavergnée, D. Lavalle,
Vouet. Catálogo da exposição, Paris, Grand Palais, p. 340