Na Vita de Pontormo, após referir-se à colaboração entre Michelangelo e Pontormo no Noli me tangere (para Vittoria Colona, Giorgio Vasari escreve:
“Vendo a grande estima de Michelangelo por Pontormo e a diligência com que este executava em pintura os desenhos e cartões daquele, tanto fez Bartolomeo Bettini que Buonarroti, amicíssimo seu, fez-lhe um cartão de uma Vênus nua com um Cupido que a beija, para que Pontormo fizesse a partir dele uma pintura para ser colocada em um de seus quartos, em cujas lunetas encomendara a Bronzino, que aí começava a pintar, Dante, Petrarca e Boccaccio, com o intuito de representar os diversos poetas que cantaram o amor em verso e prosa toscana. Tendo portanto Jacopo obtido esse cartão, executou-o (…) à perfeição, naquela maneira de todos sabida, que me dispensa de louvá-lo. Tais desenhos de M. entusiasmaram Pontormo e levaram-no, considerando ele a maneira daquele artista nobilíssimo, a querer por todas as vias, segundo seu saber, imitá-la e segui-la”.
O retrato idealizado de Dante em questão, de que se conhece ainda outra versão não-autógrafa, destinar-se-ia a esta stanza de Bartolomeo Bettini. Herdeira das decorações de alcova do século XV, esta decoração retoma a seu modo também a tradição dos studioli e pode ser considerada como um paralelo figurativo ao culto literário do toscano que se aglutinaria a partir de 1540 na Accademia degli Umidi, cooptada imediatamente por Cosimo I no âmbito de sua Accademia fiorentina.
Luiz Marques
08/07/2010