“A história da seleção pelo pintor Zeuxis de Heracléia de diversos aspectos das mais belas virgens de Crotona para pintar uma Toilete de Helena, destinada ao templo de Juno daquela cidade, pretende demonstrar que a perfeição artística é obtida, não a partir da imitação de um único modelo na natureza ou na arte, mas a partir da seleção e combinação pelo artista de diversos aspectos parciais de diversos modelos (naturais ou artísticos), onde a perfeição foi atingida. A ideia comparece pela primeira vez no De inventione de Cícero: “”porque a natureza não perlustrou a perfeição de todas as partes em um único gênero””. Ela retorna em Plínio (Naturalis historia, XXXV, 64) que apenas troca Crotona por Agrigento, e em Luciano que a aborda no pequeno diálogo O retrato e no Immagines, 5.
No século XV, tematizam-na Leon Battista Alberti e Lorenzo Ghiberti. No século XVI, Castiglione (I, 26 e 53) e Agostino Nifo, no De pulchro et amore (1529). Ela é fundamental para o pensamento de Rafael e será enfim retomada por Vasari na Vida de Beccafumi e no proêmio de sua autobiografia. Como bem nota Sabbatino, o topos foi utilizado tanto pelos que defendem a unicidade, quanto pelos que defendem a pluralidade dos modelos retóricos.
Omnipresente de Cícero e Plínio a Agucchi, ela se converte, com Beccafumi, em 1519 (vejam-se os afrescos do palácio Casini Casuccini em Siena*), em ilustração das virtudes do pintor.
Luiz Marques
17/07/2010
Bibliografia
1978 – R. Guerrini, “”Valerio Massimo e gli affreschi di Domenico Beccafumi nel Palazzo Bindi Sergardi in Siena””. Atheneum, LVI, III-IV, pp. 267-287;
1990 – A. Angelini, “”Domenico Beccafumi, 1519-1527″”, in Domenico Beccafumi e il suo tempo, cat. da exp., Siena, Milão, 1990, pp. 126-131
1990 – A. Pinelli, “”Il ´picciol vetro´ e il ´maggior vaso´. I due grandi cicli profani di Domenico Beccafumi e la volta dipinta della camera in Palazzo Venturi e nella Sala del Concistoro””, in Domenico Beccafumi e il suo tempo, cat. da exp., Siena, Milão, pp. 622-651;
1994 – A. Pinelli, “”Messaggi in chiaro e messaggi in codice. Arte, umanesimo e politica nei cicli profani del Beccafumi””. Ricerche di Storia dell´Arte, 53, 1994, 35-66
1997 – P. Sabbatino, La Bellezza di Elena. L´Imitazione nella letteratura e nelle arti figurative del Rinascimento, Florença, 2001
2004 – A. Pinelli, La bellezza impura. Arte e politica nell´Italia del Rinascimento. Roma, Bari, 2004, especialmente capítulo II, pp. 73-90.
“