Localização inventarial: ms. plut. 1.56, c. 13r.
Nesta que é primeira iluminura conservada de uma cena da Crucificação, estampam-se alguns dos traços iconográficos mais distintivos e recorrentes desta iconografia. Vê-se, por exemplo, a primeira representação conhecida de Longinus, o soldado que, segundo João (19, 34), teria transpassado com uma lança o lado direito de Cristo. Vêem-se também, sempre segundo João, os soldados que jogam na sorte com quem ficará o manto do Cristo. Além disso, a Virgem é já representada com um nimbo ao lado de João Evangelista. Finalmente, à direita, vêem-se as três Mulheres Pias, coadjuvantes costumeiras das cenas sucessivas.
O Cristo está vestido com um colobium, uma túnica sem mangas, e não apenas com seu perisoma, como ditam as fontes evangélicas, um traço oriundo de certa iconografia bizantina da Crucificação, tal como se encontra, por exemplo, no esmalte que adorna a tampa do Relicário da Vera Cruz*, executado por volta de 800, hoje no Metropolitan Museum de New York.
Este manuscrito siríaco (versão Peshitta) do Evangelho (34 x 27 cm em suas atuais dimensões) é assinado e datado por um monge escriba de nome Rabbula, pertencente ao monastério de S. João de Zagba, de localização problemática, mas provavelmente situado entre Antióquia e Apaméia (outros o situam no norte da Mesopotâmia).
Luiz Marques
05/05/2010