Proveniente de Itú, esta imagem do Cristo crucificado é das
mais elegantes da imaginária setecentista conservada em
coleções brasileiras.
Com sua luxuriante abundância de pregas, o perizonium
é dotado de sentido decorativo autônomo em relação à
volumetria e aos ritmos do corpo. É flagrante o contraste
entre o gosto rocaille da decoração dos panejamentos
e o pathos do corpo recoberto de sangue, na melhor
tradição ibérica. Este último, por sua vez, revela um
conhecimento da anatomia, uma ciência das proporções e uma
coerência de modelado dificilmente concebíveis no âmbito da
cultura plástica espontânea ou popular da colônia.
Trata-se, provavelmente, de obra criada em um ateliê em
plena posse das normas da disciplina acadêmica e é mais
plausível pensar que se trata de obra de importação
metropolitana.
Os ângulos de inclinação dos braços e da cabeça, caída para
a esquerda e para frente, as características do penteado e
da barba são elementos que convidam a inserir este Cristo em
uma antiga tradição escultórica cujos mais remotos modelos
encontram-se na escultura em madeira toscana do século XIV,
nomeadamente nos Crucifixos de Giovanni Pisano do Museo
dell´Opera del Duomo de Siena, da Catedral de Pisa e no
fragmento do Museu de Berlim, entre outros.
Luiz Marques
02/12/2011
Bibliografia:
1971 – M. Seidel, La scultura lignea di Giovanni Pisano.
Florença: Editrice Adam.
2002 – M. Marino, L. Nunes, Imaginária Século XVIII. Museu
de Arte Sacra de São Paulo, vol. II, p. 64.
2011 – D. de Abrantes, Crux, Crucis, Crucifixus. O Universo
simbólico da cruz. Catálogo da exposição, São Paulo, Museu
de Arte Sacra.