“Em 1. de agosto de 1914, o Império Alemão declara guerra à
Rússia; dois dias depois, declara guerra à França e em 4 de
agosto, o Reino Unido declara guerra à Alemanha.
Então com 30 anos, Max Beckmann (1884-1950) registra o
momento em que um grupo de pessoas toma conhecimento pelos
jornais de uma dessas declarações de guerra entre os países
beligerantes.
Trata-se da primeira de uma série de obras que documenta o
desenrolar dos acontecimentos bélicos, de que ele participou
em primeira pessoa, vítima que foi, ao servir nos serviços
de saúde do front belga, de um colapso físico e psíquico que
ele descreveria como “”das grenzenlose Verlassensein in der
Ewigkeit”” (o abandono ilimitado na eternidade) e que ele
tentaria conjurar através do desenho e da pintura. De fato,
em uma carta à esposa, Minna, de 3 de outubro de 1914, ele
escreve:
“”Minha vontade de viver é agora mais forte que nunca, não
obstante ter testemunhado cenas terríveis e ter morrido, na
pele de outros, muitas vezes. Mas quanto mais frequentemente
se morre, mais intensamente se vive. Continuo desenhando.
Isto me protege da morte e do perigo””.
Mas desenhar a guerra também tem seus perigos, pois suscita
a suspeita de espionagem, o que leva o artista por duas
vezes à prisão.
Beckmann recordar-se-ia ainda deste preciso momento da
eclosão da guerra, presenciado na famosa alameda Unter den
Linden, de Berlim, e em especial dos sentimentos de cada
semblante que sua gravura capta com extremo nervosismo.
Enquanto desenhava, um Junker (aristocrata prussiano)
encara-o furioso: “”Por que você não está festejando como
todo o mundo?””, enquanto outra pessoa acrescenta: “”Como se
pode desenhar em um dia como este?””. Beckmann responde:
“”Esta é a maior das catástrofes nacionais””, resposta que por
pouco não lhe vale um linchamento.
Luiz Marques
26/11/2011
Bibliografia
1991 – S. Lackner, Max Beckmann. Londres: Thames and Hudson,
p. 12″