“O retrato traz nos papéis ou pergaminhos sobre a mesa inscrições identificatórias dos retratados: Hyppolite Vice Cancell. e M. de Braccijis. Ao lado de Ippolito, posa com efeito Monsenhor Marco Bracci, chierico di camera, pouco após Ippolito ser nomeado Vice-Cancelliere da Igreja, pela Bula de 3 de julho de 1532.
Isto não impediu que nos séculos XVII e XVIII, quando ainda conservado nas coleções Borghese de Roma, o duplo retrato fosse atribuído a Rafael e os retratados curiosamente identificados como Maquiavel e o Cardeal Borgia. Em 1787, Ramdohr identifica Ippolito, provavelmente graças ao retrato que lhe pinta Tiziano*, hoje no Palazzo Pitti.
Desconhecem-se as circunstâncias que motivam o retrato, no qual Ippolito acaba de assinar algo como um decreto talvez a ser cumprido por Bracci, que segura o tinteiro em um gesto de solícita obediência.
A atribuição passa de Rafael a Tiziano e deste a Sebastiano del Piombo. Somente em 1924, Hermann Voss reconhece a mão do pintor, arquiteto, desenhista e cenógrafo de Ferrara, além de excepcional retratista, Girolamo Sellari, conhecido por seu toponímico Girolamo da Carpi (1501-1556).
De Girolamo da Carpi retratista, Roberto Longhi deixa em 1940 um juízo crítico categórico ao escrever acerca do retrato de Giulia Muzzarelli, aos pés do retábulo com a Virgem em Glória (Pala Muzzarelli), hoje na coleção Kress:
Questa naturalizzazione del fatto mistico (…) è già cosa che prelude il gran raggio del barocco più alto; quello del Cortona e del Bernini. E qui fuor di dubbio, Gerolamo da Carpi ha detto una parola che vale la pena di rievocare dopo secoli ch`era smarrita, e non soltanto per la forza del ritratto di Giulia Muzzarelli che è uno dei più stupendi del Cinquecento; d`una immediatezza da presentire il Velázquez
Uma atribuição alternativa a Francesco Salviati foi proposta por Philippe Costamagna e Paul Joannides (in Monbeig Goguel, 1998), que vêem na pose enrijecida de Ippolito o signo de um retrato póstumo, isto é, posterior a 1535.
Luiz Marques
23/03/2010
Bibliografia
1940 – R. Longhi, Ampliamenti nell“Officina Ferrarese, Opere Complete, V, Florença, Sansoni, 1980, p. 165
1998 – C. Monbeig Goguel, Francesco Salviati o la bella maniera. Catálogo da exposição, Roma, Villa Medici, pp. 48-54
2000 – A. Pattanaro, Girolamo da Carpi. Ritratti. Padua, Bertoncello,
“