“El sueño” (o sonho), obra realizada pelo fotógrafo cubano Raúl Corrales, como fotojornalista na primeira viagem realizada por Fidel Castro a Venezuela, comporta uma alusão evidente ao erotismo, que se compõe através de vários detalhes, cujas sutilezas são menos evidentes. Temos em primeiro lugar a pintura, um nu parcial feminino, onde a figura encara o espectador enquanto, num gesto sensual, levanta o braço direito, oferecendo um de seus seios, no centro da composição.
A figura do soldado por sua vez deitado, acusa um completo abandono, se a dama da pintura se oferece adiantando seu seio ao espectador, o homem deitado aguarda a oferta, com os braços curiosamente levantados, em postura similar àquela da moça. Os corpos tomam direções distintas, um convidativo, o outro em espera, ele com os olhos fechados sonhando-a, ela com os olhos abertos seduzindo-o. Apercebemo-nos então do boné do soldado, que segundo o costume militar, repousa na região pubiana durante o sono, sugerindo sutilmente o ocultar de uma possível ereção.
A beleza única do momento tem sido captada com um nível de detalhe e perfeição tal que nos traz a suspeita do arranjo por parte do fotógrafo. Este diálogo entre pintura e fotografia instaura uma visão da figura da mulher muito diferente da que será construída pelos próprios fotógrafos da Épica Revolucionária a que Corrales pertence. A pintura pode, neste sentido, ser interpretada como uma representação aburguesada do universo feminino, onde a mulher se define a partir do corpo, como um simples troféu carnal para o soldado que tem seu dever cumprido.
Raúl Corrales Fornos nasce em Cuba na cidade de Ciego de Avila, em 29 de Janeiro de 1925. Estudou entre os anos 1957-1959, obtendo a titulação de Técnico Gráfico, na Escola de Jornalismo “Manuel Márquez Sterling”, em Havana. Seu trabalho como foto-jornalista converteu-o em colaborador dos mais importantes jornais e revistas da época. Com o triunfo da revolução em 1959, Corrales passará a ocupar o cargo de Director del Departamento de Fotografía do INRA, convertendo-se também, entre 1959-1961, no Fotógrafo Acompañante de Fidel Castro. No ano de 1961 tornar-se-á Membro Fundador da Seção de Fotografia da Unión de Escritores y Artistas de Cuba (UNEAC).
Em 1964, Raúl Corrales será nomeado Chefe da seção de micro-filmes e fotografia da Oficina de Asuntos Históricos del Consejo de Estado, função que desempenhou até o ano de 1991. Corrales é uma das mais importantes figuras da fotografia Latino-Americana do século XX.
Mónica Villares Ferrer, Mestre em História da Arte.
20/05/2010