Nesse quadro o pintor espanhol Modesto Brocos mostra o
interior de um ambiente de trabalho no meio rural
brasileiro. O local é iluminado pela janela aberta, à
esquerda, que permite ver a vegetação exuberante na área
externa e pela qual entra a luz que ilumina o local.
O pintor apresenta o processo rudimentar de fabricação da
farinha de mandioca, atividade predominantemente feminina.
Brocos se tornou conhecido pelos quadros nos quais
apresentou aspectos da vida no meio rural brasileiro.
O tema do trabalho escravo e posteriormente do trabalho dos
afro-descendentes, após 1888, não esteve presente na pintura
no Brasil, a não ser em obras de Debret e na produção de
artistas viajantes como Rugendas, e de fotógrafos, como
Victor Frond e Marc Ferrez, entre outros.
O quadro de Modesto Brocos, datado de 1892, parece evocar,
já no período posterior à abolição, o universo do trabalho
retratado por Frond (por exemplo, a litografia
“Descascadoras de mandioca*”). As cenas de trabalho
apresentadas no livro “Brasil Pitoresco” de autoria de Frond
e de Charles Ribeyrolles entretanto, foram sempre
registradas em ambientes externos, imposição da técnica
fotográfica da época.
Como nota Roberto Conduru, o tom adotado pelo pintor não
deixa de ser crítico e o quadro: “É um retrato realista das
precárias condições de trabalho e vida dos afro-descendentes
no Brasil, ao representá-los sentados no chão, a descascar
mandioca, quase como continuidades da terra, das raízes, das
coisas”.