Martius comentou sobre as representações freqüentes em obras de naturalistas e viajantes e argumentou: “Em meio à reprodução expressa, já em diversas estampas, das florestas primitivas, em sua beleza natural e abundância, não me pareceu dissonante ainda mostrar a imagem daquela devastação, que, nessas florestas, é feita pelas mãos soberbas dos homens que as agridem com o arado ou com o fogo, a fim de abrirem lugar e espaço para uma nova cultura”.
O autor criticou a prática das queimadas, que causavam o esgotamento dos solos, em uma cultura que vivia da destruição das florestas, afirmando que;
“fica, naturalmente, claro que não somente são extinguidas espécies nobres de florestas, mas também que a terra, com esta violência, que está alheia à natureza das plantas, é sobremaneira privada de sua fertilidade”.
Martius comentou sobre a grande figueira registrada nessa gravura, descrevendo suas raízes enormes e afirmando que por vezes estas poderiam formar “várias abóbadas com raios da base em torno de seu centro, que podem conter muitíssimos homens em pé”.
Como nota Heitor Assis, a técnica da litografia permitiu ao editor “acrescentar detalhes à obra de arte, detalhes anatômicos e estruturais importantes na identificação botânica”.
Nas ilustrações do primeiro volume da Flora Brasiliensis, exemplares de interesse foram acrescentados na paisagem de acordo com anotações colhidas durante a viagem pelo Brasil entre 1817 e 1820.
Para Assis, o modelo formal para a litografia foi um desenho de Benjamin Mary, intitulado “Derrubada da mata próximo a São João Marcos, com tronco de uma gameleira (Ficus), com belas sapopembas, s.d”, que pertence à coleção H. von Martius, Munique.
No Brasil, a discussão sobre a degradação do meio ambiente foi enfatizada na década de 1820, com os escritos de José Bonifácio.
Na década de 1840, o pintor Félix-Émile Taunay levou a discussão ao ambiente da Academia de Belas Artes com o quadro “Mata reduzida a carvão”* (1843), no qual evocou essa imagem presente no primeiro volume da Flora Brasiliensis.
Maria Antonia Couto da Silva
22/02/2011
Bibliografia:
1996 – K. F. P. Martius. A viagem de von Martius: Flora Brasiliensis – volume 1. Rio de Janeiro : Index, pp. 73-77.
2002 – J. A. Pádua. Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888. Rio de Janeiro : Zahar.
2004 – H. Assis Júnior. “Relações de von Martius com imagens naturalísticas e artísticas do século XIX”. (Dissertação de mestrado), UNICAMP, IFCH, Campinas.
2006 – G. J. Shepherd. Uma breve história da obra. In: Projeto Flora Brasiliensis. Disponível em:
http://florabrasiliensis.cria.org.br/info?history
acesso: 22/02/2011.
2006 – H. Assis Júnior. “As pranchas fisionômicas e seus modelos”. In In: Projeto Flora Brasiliensis. Disponível em:
http://florabrasiliensis.cria.org.br/info?plates
acesso: 22/02/2011.
2006 – “Flora Brasiliensis on line” Jornal da UNICAMP, Campinas, 13 a 19 de março de 2006, p. 12. Disponível em:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju315pg12.pdf
acesso: 22/02/2011.