George Leuzinger registrou nessa fotografia a Igreja de Santa Luzia, na cidade do Rio de Janeiro, construída em 1752. Durante o século XIX a paisagem local foi tema de aquarelas e pinturas de artistas viajantes como Hildebrandt e Thomas Ender. É interessante notar como nessa fotografia Leuzinger destaca a atmosfera enevoada presente no local e o contraste entre a solidez da construção e o mar à frente da igreja. O enquadramento é inovador pelo fato de a edificação estar situada à extrema direita do observador. Posteriormente, a paisagem alterou-se totalmente, as obras de engenharia realizadas a partir de 1921 empreenderam o arrasamento do Morro do Castelo e criaram o aterro próximo à igreja.
O fotógrafo foi um dos primeiros a realizar uma coleção de vistas do Rio de Janeiro, Niterói e também das cidades das regiões serranas fluminenses. Em suas fotos, mantém diálogo com a tradição da pintura do período e revela-se atento às possibilidades plásticas da paisagem. Leuzinger participou da Exposição Nacional de 1866, na qual apresentou, entre outros trabalhos, a foto da Igreja de Santa Luzia. Membro do júri oficial dessa exposição, o pintor Victor Meirelles analisou, entre outros, os trabalhos de Leuzinger, destacando neles a “nitidez, vigor e fineza dos tons”. O pintor comentou que algumas fotografias pareciam trabalhos artísticamente estudados que poderiam, assim como as gravuras, servir de estudo aos artistas que se dedicavam “à arte bela da pintura de paisagem” no Brasil. Meirelles enfatizou também nas fotografias de Leuzinger a gradação de planos, que se destacam entre si, e vão gradualmente desaparecendo até o horizonte, como podemos perceber na fotografia comentada nesse texto.
Maria Antonia Couto
19/02/2010
Bibliografia:
2006 – MEIRELLES, Victor. Relatório da II Exposição Nacional de 1866. Boletim do Grupo de Estudos do Centro de Pesquisas em Arte e Fotografia do Departamento de Artes Plásticas ECA-USP. São Paulo, n.1, p.11.