(continuação do comentário à imagem 6 do Laocoonte)
Outro poema contemporâneo que desenvolve, e mais amplamente,
esta equação entre o “Laocoonte” e a representação da
dor será o Laocoon in Titi imperatoris domo Iulio II
Pontifici Maximo repertus de Evangelista Maddaleni de´
Capodiferro (morto em 1527).
Desde seu início, a dor de que trata o poema ecfrástico
exprime-se, talvez pela primeira vez na Idade Moderna,
naquela interrogação sem resposta – possivelmente o tema do
perdido “Laocoonte” de Sófocles -, que constituía em todo o
caso a essência do sentimento antigo do trágico, tal como a
define Goethe em sua famosa carta de 1824 a Friedrich von
Müller: a descarga sobre o inocente da tensão extrema
produzida por um antagonismo inconciliável. Assim, no caso
do Laocoonte, os deuses infligirão sua punição não
diretamente sobre quem cometeu a hybris, mas sobre
seus filhos:
Laocoon ego sum: sic me fera plectit Athena
quod mea Palladium dextera laesit equum.
At patriae me vicit amor; sed si mea sunt haec
crimina, cur natis est dea facta nocens?
“Sou Laocoonte: assim me puniu a cruel Atena / pois meu
braço direito ofendeu o cavalo de Pálade. / Venceu-me,
contudo, o amor à pátria; mas se este crime é meu, / por que
a deusa fez de meus filhos réus?”
E o poema envereda em seguida pelo topos da arte
capaz de infundir vida no mármore e, em particular, uma
verdadeira dor:
Nec tantum hoc iram satiat; sit poena perennis
ut mea, sub pario marmore vivat, ait.
Dices, me aspicias, veros lapidi esse dolores,
et natis haud fictum exitium atque metum.
“E não apenas isto sacia sua ira; diz [a deusa]: / ´para que
a minha punição seja eterna / viva ela no mármore de Paros!´
/ Dirás, escuta-me, que existe para a pedra verdadeiras
dores, / e que aos meus filhos o medo e a morte não são
ficção”.
Mais ainda, talvez, que suas qualidades plásticas e
técnicas, ou que seu conhecimento da anatomia “em ação”, ou
ainda seu potente simbolismo político e religioso, é decerto
sua dimensão expressiva – vale dizer, a percepção da
experiência extrema do sofrimento e da dor nas três figuras
do grupo – que parece constituir o Leitmotiv da
história moderna da recepção do Laocoonte.
Tal proeminência não é arbitrária e se verificava
possivelmente já no mundo antigo posto que, com toda a
probabilidade, ela se nutri