(continuação do comentário à imagem principal)
Para além das questões de diversa qualidade e de autoria dos
gênios, em seu aspecto atual, o monumento a Ilaria revela um
profundo contraste, entre o caráter gótico da figura e o
caráter antigo, por assim dizer adriâneo, dos relevos
laterais. Longhi não deixa de enfatizar esta creazione
così pienamente e misteriosamente gotica come la figura
giacente di Ilaria (criação tão plena e misteriosamente
gótica como a figura jacente de Ilaria), e prossegue:
Così com’è, il monumento d’ Ilaria appare insoma come um
pezzo gotico posato per artificio antiquario sopra um pezzo
classico e davvero questa è un’intenzione che ci pare per
Jacopo inusitata, mentre non ci sorprende nei toscani di
trenta, cinquent’anni dopo
“Tal como é, o monumento de Ilaria surge em suma como um
elemento gótico sobreposto por força de artifício antiquário
a um elemento clássico, e na realidade esta parece ser uma
intenção para Jacopo inusitada, enquanto não surpreende nos
Toscanos de trinta, cinquenta anos despois”.
Longhi conclui que a ideação deste gênios alados pode ser do
próprio artista, em um momento final de seu percurso e
sucessivamente aos experimentos romanos de Donatello.
Enquanto a execução dos melhores relevos poderia ser, se não
do próprio Jacopo, eventualmente de Antonio Federighi de’
Tolomei, artista que, sempre segundo Longhi, “desenvolve
este momento adriâneo de Jacopo” e que o autor considera
como “o mais genial herdeiro de Jacopo, e como uma mediação
incontornável entre Jacopo e ninguém menos que
Michelangelo”.
A presença do cãozinho como símbolo de fidelidade conjugal
reforça ainda mais a plena pertença da figura jacente ao
universo da escultura gótica, derivada como é da escultura
funerária francesa, tal como se vê, por exemplo, nas
estátuas jacentes de Charles IV le Bel, morto em 1328 e de
sua esposa, Jeanne d’Evreux, executadas por Hennequin de
Liège, entre 1370 e 1372, hoje no Louvre.
Luiz Marques
04/12/2011
Bibliografia:
1926 – R. Longhi, “Un’osservazione circa il monumento
d’Ilaria”. Opere Complete. Florença: Sansoni, 1967, vol. II,
pp. 49-52.
1988 – J. Beck, A. Amendola, Ilaria del Carretto di Jacopo
della Quercia, Milão: Almicare Pizzi