Localização inventarial: Pompeia, casa dita de Cícero, inv.
9985
Trata-se de uma das raras representações conservadas dos
metragyrtai (Pedintes da Mãe), acólitos de Cibele que
perambulavam pelas cidades como músicos ambulantes, entoando
hinos à deusa, com seus címbalos, tímbales e o aulos,
a flauta dupla, na qualidade de theophorumenoi, isto
é, possuídos pela divindade.
O presente mosaico representa estes músicos como atores
mascarados e sobre uma espécie de tablado cênico, em uma
provável alusão à comédia Theophorumene (A jovem
possuída) de Menandro (342-291 a.C.), de que se conserva
apenas um pequeno fragmento, mas que conhece grande
popularidade na Roma republicana, graças a comediógrafos
como Plauto e Terêncio.
Os metragyrtai eram párias tolerados, mas desprezados
e escarnecidos em Roma. Como lembram Burckert e Dickie,
Crátino, em uma de suas comédias, insulta Lampônio, um
vidente de Atenas, chamando-o justamente de
metragyrtes.
Os ritos orgiásticos dos acólitos eunucos de Cibele, deusa
frígia, assimilada pelos mitógrafos helenísticos a Réia
(filha de Gaia e Uranos), continuariam a ser ao longo dos
dois séculos sucessivos objetos de derisão, como é o caso do
longo poema 63 de Catulo, sobre Atis, e as sátiras de
Marcial e Juvenal, no século I d.C..
Descoberto em 26 de abril de 1763 em uma villa de Pompeia
próxima à porta de Herculanum, sucessivamente conhecida como
Villa de Cícero, este mosaico de mármore e calcáreo composto
por minúsculas tesselas, de uma fatura típica do século II
a.C. (opus vermiculatum), é uma das duas cópias
conhecidas de uma pintura datando provavelmente do século
anterior.
A notável capacidade de mimetizar a profundidade do espaço,
as sombras projetadas, o claro-escuro e as delicadíssimas
passagens cromáticas do original pictórico é mérito de
Dioscórides de Samos, conhecido por duas obras, e que, aqui,
apõe sua assinatura no canto superior esquerdo da
composição.
Luiz Marques
02/05/2010
Bibliografia:
1987 – W. Burckert, Antigos cultos de mistério, São Paulo,
Edusp, 1992, p. 47-53.
1995 – G. Macchi (org.), À l´ombre du Vésuve. Collections du
musée national d`Archéologie de Naples. Paris, Petit Palais,
Catálogo da exposição, p. 120
2001 – M.W. Dickie, Magic and Magicians in the Greco-Roman
World, Londres, Routledge, 2001, pp. 65-66,