Almeida Jr. é o mestre na caracterização – ao mesmo tempo empática e de uma objetividade quase etnográfica – do caipira, o homem rural de São Paulo.
Nhá Chica é uma grande massa corpórea interposta entre a luz externa que banha seu fronte e peito, e a cerrada penumbra dos interiores rurais paulistas. Ela fuma seu cachimbo lentamente, enquanto fita o terreiro e a paisagem modorrenta entrevistos na abertura da janela. Sua expressão perdida e seus pensamentos aparentemente sombrios ganham a dignidade do devaneio, não desprovido de certa grandeza melancólica.
Estamos ainda longe, neste final de século, da ignorância entrevada e da indigência espiritual do “Jeca Tatu”, estigma com o qual dois ensaios de 1914 de Monteiro Lobato – “Velha praga” e “Urupês” (reunidos em 1918 em Urupês) -, imbuídos dos ideais “iluministas” de educação nacional, marcariam implacavelmente o “caboclo”, homem sem tempo.
Luiz Marques
19/06/2011