Esta tela de Giuseppe De Nittis forma, ao lado da famosa crônica publicada por Marcel Proust em Les Plaisirs et les Jours, um excepcional documento histórico-artístico sobre o salão da Princesa Mathilde, o mais prestigioso de Paris durante os anos Segundo Império e da Terceira República.
O salão era, com efeito, ponto de encontro da antiga e nova aristocracia européia, bem como de artistas e escritores, como Théophile Gautier, nomeado seu bibliotecário em 1868, Edmond de Goncourt, o pintor e escritor Claudius Marcel Popelin, segundo esposo da Princesa, e, naturalmente, o próprio Proust.
Mathilde Laetitia Wilhelmine Bonaparte, (1820 – 1904) era sobrinha de Napoleão Bonaparte, filha de seu irmão, Jérôme Bonaparte, com Catharina de Württemberg, prima do Tzar Nicolau I. Sua fortuna foi acrescida graças ao casamento com o milionário russo, Anatoli Demidoff, embaixador da Rússia em Florença (então ainda capital do Grã-Ducado da Toscana).
Graças a Edmond de Goncourt, Léontine De Nittis, esposa do pintor, é apresentada à Princesa em 1880, conforme carta de dezembro deste ano na qual o grande escritor e crítico francês comunica a De Nittis o desejo da Princesa de visitar uma sua exposição de obras em pastel.
Uma das últimas obras de De Nittis, morto em 1884, ela guarda suas distâncias em relação à ambiguidade de Manet e de Degas ao tratarem temas similares, e parece aderir mais plenamente à idéia de registro (quase) histórico de um momento privilegiado da história do “gosto”, momento do qual a cortina puxada no primeiro plano enfatiza a intenção de mise em scène.
Luiz Marques
02/06/2010
Bibliografia:
1990 – R. Monti (et alia), Giuseppe De Nittis. Dipinti 1864 – 1884. Catálogo da exposição. Florença, Artificio, p. 180