Entre as esculturas de Rodolfo Bernardelli que representam o índio, há uma pequena Paraguaçu. Personagem histórica presente no poema épico Caramuru (1781) de José de Santa Rita Durão (1722-1784), ela foi batizada como Catarina após se casar com Diogo Álvares Correa, o Caramuru.
Bernardelli a fez como uma guerreira, conforme ela surge no canto IV da epopeia. É uma versão diferente, portanto, das Paraguaçus beatas pintadas por Manuel Lopes Rodrigues e Júlio Simmonds, ajoelhadas diante da Virgem. Aqui, Paraguaçu arma-se e combate ao lado de Diogo contra os caetés.
Seguindo o poema, Bernardelli vestiu-a com o “manto espesso” de algodão, usando um crucifixo, sinal da conversão ao cristianismo. Mas a deixou com um seio à mostra, evocando também a figura de Marianne.
Com a face grave, Paraguaçu segura um arcabuz e usa um adereço inusitado na cabeça, incomum em representações visuais do indígena: duas asas abertas. Evocam talvez os adornos de elmos gauleses, como os de Vercingétorix. Se assim for, nem mesmo com o semblante severo Paraguaçu escapou do deboche do escultor.
Uma representação de Paraguaçu guerreira pode ser vista também no conjunto de esculturas do Monumento ao Dois de Julho (1888-95), em Salvador, feita por Carlo Nicoli.
Alexander Miyoshi
11/02/2011
Bibliografia:
1781 – Frei José de Santa Rita Durão. Caramurú. Poema Epico do Descobrimento da Bahia. Lisboa: Regia Officina Typographica.
2007 – M. C. Couto da Silva, “Representações do índio na arte brasileira do século XIX”. Revista de História da Arte e Arqueologia, n. 8. Campinas: IFCH Unicamp, pp. 63-71.
2010 – A. Gaiotto Miyoshi, Moema é morta. Tese de doutorado. Campinas: IFCH Unicamp.