Localização inventarial: inv. 3729
O retrato em mármore pentélico, não-restaurado, foi encontrado em Atenas (estrada de Falério). Apresenta Adriano com uma coroa de folhas de carvalho, a corona civica, e uma gema com o relevo (fragmentário) de uma águia. Trata-se de uma réplica grega do tipo Imperatori 32, trabalhada com independência pelo escultor, que alonga consideravelmente a cabeça do Imperador.
Os olhos dilatados e a pupila em relevo constituem uma intrigante inovação que data da segunda estada do imperador em Atenas, em 128-129, momento central na vida e na carreira de Adriano. Adriano reforça então seu paralelo com Hércules. Assume o título de Zeus Eleutherios, no Olympieion de Atenas, cuja reconstrução ele retoma desde 124, inaugurando-lhe em 129 a cella. Assim como, em sua passagem pelo Hades, Hércules restaurara a liberdade de Teseu, herói ligado ao mito inaugural de Atenas, assim também Adriano restaura a grandeza da cidade, refundando-lhe toda uma outra parte, para além da assim chamada Porta de Adriano, em um paralelo explícito baseado no binômio fundação / refundação da cidade.
Tal renovação da cidade, promovida entre 128 e 132, deu lugar a muitos retratos imperiais atenienses, bem atestados por inscrições e por Pausanias, segundo o qual, “em frente e à volta do enorme Olympieion estátuas de Adriano foram erigidas, duas de mármre de Tasos e duas de mármore do Egito (.) O inteiro perímetro dos precintos mede quatro estádios e está cheio de estátuas, pois cada cidade dedicou um retrato do imperador Adriano”.
Este retrato, dotado de um semblante tão intenso e severo, vincula-se a estas iniciativas e pode ser considerado, tal como propõe Evers, como um Adriano Olympios.
Luiz Marques
01/05/2010
Bibliografia:
1969 – A. Carandini, Vibia Sabina. Funzione politica, iconografia e il problema del Classicismo Adrianeo. Florença, 1969, p 44
1986 – E. Calandra, Oltre la Grecia. Alle origini del filellenismo di Adriano. Perugia, pp. 81-91
1994 – C. Évers, Les portraits d`Hadrien. Typologie et Ateliers. Académie royale de Belgique, pp. 86-88
2000 – M. T. Boatwright, Hadrian and the Cities of the Roman Empire. Princeton, pp. 144-157
2002 – N. Kaltsas, Sculpture in the National Archaelogical
Museum, Athens. Los Angeles, The J. Paul Getty Museum, p. 340
2008 – L. Marques, De Roma a Atenas. Os olhos de Adriano no
Physiognomonia de Polemon. In, L. Marques, A Fábrica do Antigo, Campinas, Editora da Unicamp, pp. 59-83