Localização inventarial: inv. 1529
Transposto para tela, este retrato de Erasmo de Rotterdam (1466c.-1536) é o original, ou uma réplica da versão de Hampton Court, executado por Quentin Metsys (1465c. / 1530), como pendant do retrato de Peter Gillis (Petrus Aegidius), hoje em Longford Castle, Salisbury, Inglaterra. Além da versão de Hampton Court, conservam-se outras nos museus de Amsterdam e de Antuérpia.
Em 1517, data da execução de ambos os retratos, Erasmo hospedava-se na casa de Gillis, em Antuérpia, cidade em que Metsys tinha então seu ateliê. O díptico situa os dois grandes eruditos em um mesmo ambiente de trabalho, na tradição das representações de S. Jerônimo em seu scriptorium, santo com quem os letrados engajados na exegese bíblica e nos estudos clássicos mantinham desde o século XIV forte identificação ideológica. Os dois retratos são mencionados por Erasmo em uma carta ao amigo comum, Thomas Morus, a quem o duplo retrato será enviado como presente. Morus agradece em uma carta de 6 de outubro de 1517.
Absorto em sua reflexão, Erasmo suspende o olhar de seu texto, que, em 1517, era a crucial Paraphrasis da Epístola de Paulo aos Romanos, cuja interpretação seria objeto de acirradas disputas teológicas sobre o respectivo valor da fé e das obras para a salvação. A obra encena, portanto, o drama intelectual e religioso que dominaria a Europa do século XVI, drama no qual Erasmo é figura-chave, representando a maior tentativa na história do humanismo de encontrar uma sabedoria em que se reconheçam, de um lado, pensamento antigo e cristianismo, e de outro, a Igreja e os fermentos da revolta que estava prestes a eclodir nas Teses de Lutero.
Erasmo será sucessivamente retratado por Dürer e por Holbein, o Jovem.
Luiz Marques
21/05/2010
Bibliografia
1950 – A. Gerlo, Erasme et ses portraitistes. Metsijs Durer Holbein. Bruxelas, p. 9-24
1984 – L. Silver, The Paintings of Quinten Massys, with Catalogue Raisonné. Montclair, p. 235, cat. n. 58