O Danzón, ritmo musical e dança tipicamente cubanos, é o protagonista da série, “El Liceo”, da fotógrafa, e pesquisadora cubana María Eugenia Haya, mais conhecida como Marucha, formada no Instituto de Cinematografia de Cuba e na Universidade de Havana.
Ao nos aproximarmos das obras que compõem esta série, nossa primeira impressão é estar assistindo a uma encenação ou a cenas de um filme de época, ideia reforçada pelo local em que se situam os personagens. No “Liceo” o espaço físico e os detalhes ornamentais da decoração têm a conotação de um segundo protagonista. Os novos proprietários do antigo clube parecem fazer questão de manter o ambiente intocado. Tudo está detido no tempo e as roupas e penteados dos retratados ajudam a reafirmar esta ideia.
Os amantes do “danzón” são aqueles que guardam a lembrança de tempos passados, da elegância e da formalidade de antigas festas: avôs e avós geralmente, negros e mulatos, vestígios de uma etapa em que as classes sociais estavam claramente delimitadas. São veteranos num tempo de mudanças que, de certo modo, eles ignoram, talvez movidos pelo costume, preservando junto à dança, a marcação das diferenças sociais. Talvez seja este o motivo para mostrar os rostos orgulhosos, as atitudes de damas e cavalheiros que, em qualquer situação, posam para a posteridade.
A elegância e a ironia estão em todo lugar, desde o salão, antigo, clube exclusivo para brancos e um dos tantos espalhados pela Ilha que é uma testemunha de sua espécie, onde até um presidente da República fora barrado, até a ingênua austeridade mostrada pelos convidados.
Esta imagem pertencente a modalidade antropológica dentro da fotografia documental, tem sua motivação no “Danzón” dança que simula uma espécie de cortejo de tipo cavalheiresco, os corpos apenas roçam-se, enquanto a sensualidade é transmitida através da cadência dos movimentos, dos olhares semi-ocultos atrás do leque, elemento imprescindível no ritual. Observe-se a pequena distorção ótica obtida pela utilização da grande angular.
A contribuição de Marucha para o campo da história da fotografia tem como base a pesquisa dos denominados `esquecidos da história`. Tais investigações ganham reconhecimento internacional a partir do Primeiro Colóquio Latino-Americano de Fotografia, realizado no México no ano de 1978, onde a pesquisadora e curadora apresentou uma exposição que posteriormente percorreu o mundo sob o nome de Épica Revolucionária, marcando para sempre esta produção, exibida em cidades como Nova Iorque, São Paulo e Hamburgo.
María Eugenia Haya foi diretora fundadora da Fototeca de Cuba, até sua morte em 1991.
Mónica Villares Ferrer, Mestre em História da Arte
18/05/2010.