Registro inventarial: inv. n. 7
Na prancha, lê-se a inscrição: LUX NON DA TUR / ABISO / B
(A luz não é dada …)
Sacerdotisas legendárias de Apolo, as Sibilas são primitivamente personificações femininas da ciência divinatória oriental, possivelmente persa, que se difundem pela Grécia a partir do século V a.C.
Provavelmente, o texto mais relevante para a iconografia das Sibilas nos anos tardios do século XV é o De christiana religione de Marsilio Ficino, de 1474c., em cujos capítulos 24 (Auctoritas Sibyllarum) e 25 (Testimonia sibyllarum de Christo) o filósofo recapitula e sistematiza a tradição latina desde Varrão e Lactâncio, tipificando cada uma das Sibilas a partir de uma concordantia entre as fontes clássicas e a interpretação patrística dos assim chamados textos dos Oráculos Sibilinos.
Não é conhecido o contexto programático em que nasce esta obra de Dosso Dossi (1490-1542), com toda a probabilidade encomendada por Alfonso I d´Este, duque de Ferrara. Tratar-se-ia de uma das primeiras representações solitárias das Sibilas, até então representadas em grupo ou em contraponto com os Profetas?
A datação da obra é igualmente incerta. Mendelsohn e Eisler datam-na de 1516 / 1520, enquanto Gibbons situa-a em torno de 1530. Seja qual for sua data, estamos diante de uma das mais belas obras de Dosso Dossi, dominada pela passagem tonal do amarelo das vestes para o dourado da pele. A mão esquerda é admiravelmente desenhada. Do punho à ponta dos dedos, como da testa ao pescoço, caminha-se lentamente para a penumbra graças ao foco de luz em diagonal. A expressividade pungente de seu semblante é tão misteriosa quanto são exóticos o penteado e os adornos em ouro que o enquadram.
A obra é conhecida também em outra versão (65,5 x 56 cm), considerada autógrafa, outrora no mercado de arte de Milão.
Luiz Marques
03/11/2010
Bibliografia
1912 – L. Venturi, “Saggio sulle opere d´arte italiana a Pietroburgo”. L´Arte, xv, p. 215
1914 – H. Mendelsohn, Das Werk der Dossi. Munique,
1968 – F. Gibbons, Dosso and Battista Dossi. Court Painters at Ferrara. Princeton University Press, p. 183
1990 – C. Eisler, Paintings in the Hermitage. New York, p. 65