O detalhe representa a imagem de Juno transportada para seu novo templo no Aventino, em Roma, conforme narra Tito-Lívio no capítulo 22 do livro V de Ab urbe condita libri. Já no capítulo 21 do livro V, Tito-Lívio narra que Camilo, prestes a tomar de assalto Veio, faz um voto a Apolo e um a Juno: “E a ti também, ó Juno Rainha (Iuno Regina), que tens hoje tua sede em Veio, suplico que te disponhas a nos seguir, vencedores, para nossa cidade, que em breve será tua, onde te poderá acolher um templo digno da tua majestade”.
Como assinala Vitali, “Tínia, Uni, Menerva compunham a tríade benévola importada pelos Tarquínios a Roma na forma helenizada de Júpiter, Juno (sua esposa, portanto, Rainha), e Minerva. O santuário etrusco compreendia três celas dedicadas a cada divindade”.
Lívio narra o cerimonial envolvido no transporte: “A jovens cuidadosamente escolhidos entre os soldados, purificados e de corpo imaculado, vestidos de branco, foi confiada a tarefa de transportar a Roma a imagem de Juno rainha. Entrando no templo com postura devota, primeiramente estenderam as mãos com temor reverencial, pois aquela estátua, segundo o rito estrusco, não devia ser tocada senão pelo sacerdote de uma determinada família”.
Salviati retrata-se entre os transportadores do altar de Juno. Segue Lívio na representação dos quatro cavalos brancos, mal recebidos em Roma, segundo Lívio, pois alusivos a Apolo-Sol. Não segue, contudo, sua fonte ao representar ao fundo Veio incólume, já que fora imediatamente saqueada, incendiada e destruída pelos romanos.
O ideador do programa é Pierfrancesco Riccio (1501-1564), homem versado em latim, em grego e nos clássicos toscanos, preceptor de Cosimo I, seu secretário “secretíssimo” a partir de 1537 e, enfim, seu maggiordomo maggiore e representante na Accademia Fiorentina.
Luiz Marques
16/02/2010
Bibliografia:
1568 – G. Vasari, Vita di Francesco detto de´ Salviati. In Vite de´ più eccellenti pittori”, etc.
1988 – C. Vitali (ed.), Tito-Lívio, Storia di Roma, Mondadori, 2004. livro V, 22, p.451
1997 – U. Muccini, Pittura, scultura e architettura nel Palazzo Vecchio di Firenze. Florença, Le Lettere, p. 46
1998 – A. Cecchi, “Salviati e i Medici”, in C. Monbeig Goguel, Francesco Salviati o la Bella Maniera. Catálogo da exposição. Roma, Accademia di Francia, pp. 61-65
1998 – A. Cecchi, “Il maggiordomo ducale Pierfrancesco Riccio e gli artisti della corte medicea”. Mitteilungen des Kunsthistorisches Institut in Florenz.