A Virgem em trono deriva em diversos aspectos da Maestà de Cimabue nos Uffizi. Sem ser muito rara, a presença de um S. Francisco e de um S. Domingos não é propriamente usual na iconografia mariana, haja vista a proverbial rivalidade entre as duas ordens religiosas.
Proveniente da Coleção do Príncipe Contini Bonacossi, ela foi atribuída a Cimabue por Roberto Longhi, que a situava em um momento extremo do percurso do artista, quando já assimilava as cenas das Histórias de Isaac, os primeiros afrescos de Giotto na Basílica Superior de Assis.
A atribuição não grangeou o consenso dos estudiosos e Sindona, por exemplo, tende a rebaixar de modo peremptório a qualidade artística do retábulo, na realidade dificilmente aquilatável em decorrência de seu pobre estado de conservação.
Notando as diferenças de estilo e concepção da forma entre esta Virgem e o mosaico de S. João na Catedral de Pisa, última obra segura de Cimabue (1301c.), Luciano Bellosi prefere retirá-la, por “improvável”, do rol das obras autógrafas do grande mestre florentino, sugerindo, cautelosamente, a autoria de um pintor anônimo, ativo também nos anos da passagem de Cimabue a Giotto, o Maestro della Cappella Velluti, cujos afrescos com a cena de “Gargano e o Touro” na homônima capela em Santa Croce, em Florença, foram outrora atribuídos a Cimabue.
O estudioso propõe como terminus post quem a Madona de Arnolfo di Cambio, esculpida após 1296, dadas as semelhanças estilísticas entre os dois Meninos Jesus.
Luiz Marques
16/07/2011
Bibliografia:
1939/1947 – R. Longhi, Giudizio sul Duecento. Opere Complete. Volume VII, Florença, 1974, pp. 1-53.
1975 – E. Sindona, L´Opera Completa di Cimabue e il momento figurativo pregiottesco. Milão, Rizzoli, p. 115
1987 – L. Marques, La Peinture du Duecento en Italie Centrale. Paris, Picard.
1998 – L. Bellosi, Cimabue, Milão, Federico Motta, p. 257