“Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847) conta-se entre os 
criadores da ideia de uma tradição musical essencialmente 
alemã, tal como ainda hoje a entendemos: de Bach, cuja 
proeminência ele revela ao mundo entre 1827 e 1829, a 
Brahms, seu “”sucessor”” (segundo declara Eduard Marxsen em 
1847), passando por Haydn, Mozart, Beethoven e Schumann, que 
o venera. 
Compositor dotado de um personalíssimo senso melódico, capaz 
de dominar com inata elegância todos os continentes da 
linguagem musical, Mendelssohn foi também pianista, 
organista, violinista e regente, além de criador e diretor 
de um renomado Conservatório em Leipzig, que ele transforma 
em capital da tradição clássica. 
Poliglota e versado em línguas clássicas, foi um próximo 
amigo e discípulo do grande historiador da Antiguidade, 
Johann Gustav Droysen (1808-1884) e ainda prosador 
admirável, rivalizando com Berlioz e Schumann em argúcia 
crítica, em especial em sua vasta correspondência com 
grandes personalidades da cultura alemã. 
Tendo seu pai, o banqueiro Abraham Mendelssohn, se 
convertido ao protestantismo (acrescentando ao nome judaico 
Mendel, o protestante Bartholdy), Mendelssohn foi ainda um 
estudioso de teologia, adaptador dos libretos de seus 
Oratórios Paulus e Elias, e assíduo ouvinte dos sermões 
berlinenses de Friedrich Schleiermacher, com quem ele 
compartilha o entusiasmo por Platão e o mesmo gênero de 
romântico sentimento religioso.
De fato, o fenômeno Mendelssohn só pode ser entendido se 
devidamente situado em uma das mais felizes constelações da 
cultura alemã da primeira metade do século XIX. Seu avô é o 
filósofo Moses Mendelssohn (1729-1786), próximo amigo de 
Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), que nele se inspira 
para escrever sua peça, Natã, o Sábio. 
Sua avó, Bella Salomon, confiou-lhe uma cópia da então 
desconhecida Paixão segundo Mateus de Bach. Seu tio, Joseph, 
foi um protetor de outro polímata, Alexander von Humboldt, 
de quem o compositor é amigo e a quem dedica uma cantata em 
1828. Sua tia, Dorothea, é esposa de Friedrich von Schlegel, 
poeta, pensador e protagonista do maduro Romantismo alemão; 
outra tia, Recha, era parente de Giacomo Meyerbeer; sua irmã 
mais velha, Fanny, compositora e pianista, era amiga da 
grande pianista Clara Wieck, mais tarde esposa de Robert 
Schumann. 
Em 1821, Mendelssohn é levado por seu professor de 
composição, Carl Friedrich Zelter, a Weimar e apresentado a 
Goethe. Entabula-se então uma singular amizade entre o 
menino de 12 anos e o olímpico patriarca de 72 anos, que o 
retém um mês em sua casa, cativado por seu gênio e sua 
precocidade intelectual. 
Desde ao menos 1822, Mendelssohn inicia-se no desenho e na 
aquarela, o que era então parte necessária de todo ideal de 
educação. Aproximadamente trezentas obras de sua autoria, em 
geral paisagens, conservam-se em diversas coleções, não 
poucas das quais nascidas em sua viagem à Itália (Turim, 
Florença, Roma, Amalfi…). O valor artístico de seus 
desenhos e paisagens em aquarela é indubitável e foi 
reconhecido até mesmo por Richard Wagner, que, como se sabe, 
não se inscreve entre seus admiradores incondicionais. 
Aos 20 anos, em 1829, Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-
1847) faz uma triunfal viagem à Inglaterra e à Escócia, 
iniciando uma série de viagens pela Europa, que o leva a 
Weimar, onde é por duas semanas novamente hóspede de Goethe, 
e a Roma, onde chega em novembro de 1830. Essa paisagem de 
Amalfi, assinada, data desse período, coincidente com a 
composição do Livro I, Opus 19, dos Lieder ohne Worte 
(Canções sem palavras).
Luiz Marques
17/05/2012
Bibliografia
1990 – E. Kleßmann – Die Mendelssohns, Bilder aus einer 
deutschen Familie. Zurich: Artemis Verlag”

