Registro inventarial: D 229
O desenho é assinado e datado de 1947. Trata-se talvez da 
baía de Nevin, ao norte do País de Gales, lugar que Oskar 
Kokoschka (1886-1980) ama representar em lápis de cor 
durante a Guerra. 
A obra é típica da evolução de Kokoschka após a II Grande 
Guerra em direção a uma pintura ligada aos grandes espaços, 
liberta do universo psíquico, e tendente a um paleta clara e 
a um retorno neoimpressionista ao plein air. 
É difícil não associar o caráter particularmente desértico e 
estéril desta paisagem ao estado de espírito do artista ao 
término da guerra, tal como o revela sua carta a Alfred 
Neumayer, de 1946: 
“…o mundo que eu amaria reencontrar, meu mundo, onde eu 
viajava como um vagabundo feliz não existe mais. As grandes 
cidades desapareceram da face da terra, os grandes países 
foram transformados em desertos. (…) Não posso viver em um 
tal mundo”.
Kokoschka compartilha com Gustav Klimt, a quem dedica 
algumas de suas primeiras obras, sua insatisfação com os 
ensinamentos recebidos entre 1905 a 1909 na Escola de Artes 
Decorativas de Viena. 
Ao lado de uma peculiar atividade de retratista, publica nos 
Wiener Werkstätte seu poema ilustrado, As Crianças 
Sonhadoras (1908), que lhe vale a amizade e o encorajamento 
de Adolf Loos. Além de posar para ele (Berlim, 1909), Loos o 
introduz nos meios artísticos de Viena e entre 1910 e 1912, 
Kokoschka firma-se já como uma das mais destacadas figuras 
nos cenários das vanguardas austro-alemãs. Em 1910, publica 
com ilustrações próprias Mörder, Hoffnung der Frauen 
(Assassino, esperança das mulheres), drama em versos, 
considerado uma precoce manifestação do teatro 
expressionista. 
Neste mesmo ano, inicia sua colaboração na revista Der 
Sturm e realiza em Berlim o retrato de perfil do diretor 
desta publicação, Herwarth Walden (Minneapolis, coleção 
Samuel Maslon), momento maior de uma retratística não 
indiferente à emergência da psicanálise. 
Em 1912, Kokoschka apaixona-se por Alma Mahler em uma 
primeira e única seção de pose. Sua ligação passional com a 
grande musa e compositora vienense prolonga-se por três anos 
durante os quais ele a retrata obsessivamente, sendo por sua 
por ela retratado nas páginas de sua autobiografia. 
No mesmo ano de 1912, Kokoschka faz-se presente na grande 
exposição de Munique do grupo Blaue Reiter, sem se 
identificar entretanto inteiramente com seus artistas. A 
linearidade das primeiras obras dá lugar, após a devastação 
moral e os graves ferimentos sofridos na Guerra, a uma 
pintura de empasto cromático corrosivo da forma, ao mesmo 
tempo marcadamente mórbido e solidário da tradição pictórica 
austro-barroca à maneira de Maulbertsch. 
Em 1917, expõe na Galeria Dada de Zurich com Max Ernst, Paul 
Klee e Kandinsky e em 1922 envia 12 obras à Bienal de 
Veneza. Durante estes anos é professor na Academia de Belas 
Artes de Dresden, cidade cujo museu e o teatro musical, 
dentre os mais importantes da Europa, terão aprofundado seu 
interesse pela pintura antiga, por seus efeitos cênicos e 
cenográficos, pois Kokoschka volta-se desde então para a 
cenografia, colaborando em 1919 com Max Reinhardt. 
Após 1924, deixa Dresden para viajar, não apenas pelo 
Europa, mas também para o Egito, Istambul e Jerusalém. É no 
curso de tais viagens que se intensifica em Kokoschka o 
gosto pela paisagem, despertado por uma viagem à Suiça em 
companhia de Loos, em 1909, e que se tornará central em sua 
obra durante os anos londrinos (1938-1953) e os de 
Villeneuve, na Suiça, onde reside até a morte.
Luiz Marques
30/10/2011
Bibliografia
1992 – Oskar Kokoschka, Letters 1905-1976. Selected by O. 
Kokoschka e A. Marnau, com Prefácio de E.H. Gombrich. 
Londres: Thames and Hudson
1998 – L. Marques (coord.), Catálogo do Museu de Arte de São 
Paulo Assis Chateaubriand, vol. III, p. 156

