Uma das primeiras representações conservadas do Cristo 
crucificado, senão a primeira, é blasfema e floresce nos 
meios militares romanos da primeira metade do século III. 
Pertencente de certo modo ao amplo bestiário do Cristo, ela 
o figura, contudo, de modo pejorativo, como um 
Onocoetes, isto é, com uma cabeça de asno. A cena 
conserva-se em um grafite proveniente do Paedagogium, 
a escola da guarda imperial nas encostas do Palatino, em 
Roma. Ela mostra um homem, visto de trás, com cabeça de asno 
na cruz, aos pés da qual está a adorá-lo um grego de nome 
Alexámenos. 
O crucificado é visto com uma túnica curta. À esquerda um 
homem com as mesmas roupas e o braço levantado. Na 
inscrição, lê-se: 
Alexamenos sebete theon (Alexamenos adora seu deus).
O “Y” visível em cima foi interpretado como uma forca ou 
como um grito de dor. 
Tais representações insultuosas não deviam ser raras pois a 
elas alude, por volta de 200, uma inflamada invectiva de 
Tertuliano (Ad nationes I, xi,1 e xiv,1) contra 
Tácito (xi,1) e contra um judeu residente em Roma. 
A menção a Tácito (xi,1) é a seguinte:
“Nesta matéria, somos acusados não apenas de abandonar a 
religião da comunidade, mas de introduzir uma monstruosa 
superstição. Pois alguns de vocês sonharam que nosso deus é 
uma cabeça de asno, absurdo sugerido pela primeira vez por  
Cornélio Tácito. No quarto livro de suas Histórias, quando 
trata da guerra judaica, ele começa sua descrição pela 
origem dessa nação e oferece sua própria visão da origem e 
do nomes da religião deles. Relata que os judeus quando de 
sua migração pelo deserto, sofrendo pela falta de água, 
escaparam da morte por seguir alguns asnos selvagens que 
eles supunham estarem em busca de água após pastarem. E que 
por tal razão a imagem de um desses animais era adorada 
pelos judeus”.
Segue-se no capítulo xiv do mesmo livro a segunda menção:
“Não há muito tempo (…) um homem que desertara sua própria 
religião – um judeu, de fato, (…) trazia em público uma 
caricatura nossa com a inscrição: Onocoetes. Esta figura 
tinha orelhas de um asno, trajava uma toga e levava um 
livro, tendo um de seus pés na forma de um casco. E a 
multidão acreditava nesse infame judeu. (…) Por toda a 
cidade, Onocoetes é o assunto. (…) Vejamos, então, se 
vocês não estão em nossa companhia. Pois não importa as 
formas assumidas, quando a questão concerne imagens 
deformadas. Tendes entre vós, deuses com cabeça de cães e de 
leões, com chifres de vaca, e um carneiro e um bode (…). 
Por que então estigmatizar nosso deus de modo tão conspícuo? 
Muitos Onocoetes encontram-se entre os vossos”
Luiz Marques
02/09/2011

