“Registro inventarial: inv. 1087
O culto a Hermafrodita, como símbolo de fecundidade, é de 
origem oriental e é documentado também em Chipre. 
Referências literárias a seu mito remontam a Aristófanes, a 
Platão e a Teofrasto, e prolongam-se em Cícero, Diodoro 
Sículo e em Luciano. 
Em âmbito iconográfico, o Hermafrodita aparece como uma 
figura alada, um Erotes, tal como, por exemplo,  em 
um lekythos apuliano de figuras vermelhas do século 
IV, conservado no Museu da Rhode Island School of Design 
(EUA).   
Dentre as diversas fontes textuais antigas ainda 
disponíveis, é contudo apenas com Ovídio (Metamorfoses IV, 
285-388) que se conserva uma extensa narrativa da fábula. 
Hermafrodita, ou Hermaphrditus, era o filho belíssimo de 
Hermes e Afrodite, de onde seu nome, formado pela junção de 
ambas as divindades:
Mercurio puerum diua Cytereide natum
Naides Idaeis enutriuere sub antris;
Cuius erat facies in qua materque paterque
Cognosci possent; nomen quoque traxit ab illis.
“”Uma criança que Mercúrio tinha tido da deusa de Citera foi 
nutrida pelas Naiades nos antros do monte Ida. Por seus 
traços podiam-se reconhecer facilmente sua mãe e seu pai. 
Seu nome mesmo a ambos lembrava””.
Ao completar quinze anos, Hermafrodita deixou seu lugar 
natal na Frígia e começou a viajar pela Ásia Menor. Um dia, 
Salmacis, a ninfa de um lago na Cária, às margens do qual 
suas andanças o haviam levado, apaixonou-se por ele. Não 
obtendo reciprocidade, ela o convence a despir-se e a 
banhar-se no lago. 
Tão logo Hermafrodita entrou nas águas, Salmacis agarra-o e 
suplica aos deuses que seus dois corpos nunca mais se 
separem. Sua prece foi atendida e eis que dos dois corpos 
resulta um terceiro em que se unem indissoluvelmente os dois 
sexos: 
… “”Pugnes licet, improbe””, dixit
“”Non tamen effugies; ita di iubeatis et istum
Nulla dies a me nec me deducat ab isto!””
Vota suos habere deos; nam mixta duorum
Corpora iunguntur faciesque inducitur illis
Vna…
…””Luta, malvado””, disse, “”mas não me escaparás; ó deuses, 
concedei-me que não venha o dia em que ele se separe de mim 
nem eu dele!”” Seus votos obtêm a graça dos deuses; pois seus 
dois corpos entrelaçados se confundem e revestem o aspecto 
de um único””.
De seu lado, Hermafrodita obteve dos céus que quem quer que 
desde então se banhasse naquelas águas perderia a 
virilidade. O geógrafo grego Estrabo (58 a.C. – 21/25 d.C.) 
ainda se referia a este efeito desvirilizante do lago de 
Cária (XIV, 2, 6) e a figura de Hermafrodita foi integrada 
no cortejo andrógino dionisíaco.
No livro XXXIV (34,80) do Historia naturalis, Plínio 
afirma que Polykles fez o “”nobre Hermafrodita”” (Polykles 
Hermaphroditum nobilem fecit). Trata-se provavelmente de 
Polykles o Velho, o bronzista de Argos cujo acme da 
atividade situa-se na CII Olimpíada, isto é, entre 372 e 
368. Segundo Adriano La Regina (1998), a presente obra do 
Museo Nazionale Romano seria uma das seis cópias originadas 
de encomendas romanas a partir deste protótipo.
Segundo o que reporta Antonio Corso (1988), outros 
estudiosos acreditam, contudo, que o protótipo deste 
Hermafrodita adormecido, não em bronze, mas já em mármore, é 
uma criação de Polykles, o Jovem, escultor ativo em Atenas e 
em Roma e cuja atividade situa-se entre 156 e 153 a.C.
O tema de Hermafrodite goza de grande prestígio na 
pintura e na poesia entre o século XVI e o XIX, desde o 
“”Hermafrodita e Salmacis”” de Mabuse, de 1510 (Rotterdam, 
Museum Boymans), até o quadro de mesmo tema por François-
Joseph Navez (1787-1869) e o poema “”Hermaphroditus”” de 
Swinburne, passando pela decoração da Villa di Castello por 
Pontormo e o afresco de Annibale Carracci no Palazzo 
Farnese.
Luiz Marques
29/10/2011
Bibliografia:
1988 – A. Corso (ed.), Plinio, Storia naturale, edição 
bilingue, Turim: Einaudi, p. 205.
1998 – A. La Regina, Museo Nazionale Romano. Palazzo Massimo 
alle Terme. Roma: Electa, p. 136.
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