“O Mulato de Albert Eckhout (1610-1666) é um homem de armas. Possivelmente pertencia ao pequeno exército holandês formado no Brasil para proteger a colônia. Seus cabelos são fartos e crespos, cortados na altura do pescoço, seu bigode é acompanhado por pequenas porções de barba no queixo.
Suas vestes são muito elaboradas: ele usa uma camisa branca de mangas largas, dobradas na altura dos punhos, ricamente construídas com efeitos de claro-escuro. Sobre essa camisa, ele usa um colete verde-oliva rajado por manchas negras. Uma parte desse colete está por dentro da saia que usa, provavelmente do mesmo tecido que a camisa e construída sob a mesma técnica.
Seus aparatos chamam atenção: ele apóia uma espingarda espanhola sobre o ombro esquerdo; seu florete está embainhado em uma faixa de pele de onça, aumentando o tom exótico da figura; em seu lado direito, podemos observar a ponta de uma adaga, ao mesmo tempo que uma pequena bolsa para munições e um polvarinho de chifre utilizado para carregar pólvora.
A figura encontra-se ao lado de uma touceira de cana-de-açúcar, ratificando sua ligação com as atividades de proteção da empresa açucareira flamenga. Este filho de mãe negra africana e pai branco europeu pode ser um capataz, espécie de feitor de uma fazenda produtora de cana. Seus pés descalços confirmam sua pertença a um grupo socialmente inferior.
Ao mesmo tempo, Eckhout representa nessa tela o principal produto econômico da colônia brasileira até então, e carro-chefe da Companhia das Índias Ocidentais. Ou seja, uma identificação direta entre a importância desse funcionário do Conde Maurício de Nassau e o bem mais precioso produzido pelo Brasil Holandês.
No lado esquerdo da composição, um mamoeiro hermafrodita cuja representação foi extremamente exaltada pelos peritos em botânica por sua fidelidade e importância documental da espécie. Do mesmo canto esquerdo, parte um pequeno grupo de vegetação rasteira que se estende praticamente até o lado direito.
O caminho de areia leva para o mar, onde encontramos outro grupo de vegetação litorânea à esquerda e bem ao fundo, três navios à vela, provavelmente pertencentes à frota naval da Companhia das Índias. Os navios cortam o horizonte, formado por um céu pouco nebuloso com manchas amareladas, a sugerir um entardecer ou amanhecer.
Richard Santiago
07/07/2011
Bibliografia
2002 – E. van den Boogaart. “”A População do Brasil Holandês retratada por Albert Eckhout, 1641-1643″”. In ECKHOUT volta ao Brasil 1644-2002. Nationalmuseet, Copenhagen, Denmark.
2002 – P. Mason. “”Oito Grandes Quadros com Pessoas das Índias Orientais e Ocidentais. A Montagem Maravilhosa de Albert Eckhout””. In ECKHOUT volta ao Brasil 1644-2002. Nationalmuseet, Copenhagen, Denmark.
1990 – C. do P. Valladares, L. E. de Mello Filho. Albert Eckhout – A presença da Holanda no Brasil, século XVII. Rio de Janeiro: Edições Alumbramento.
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