Inscrição: “Ingres à madame d´Agoult. Rome, 29 mai”
Em 1833, Franz Liszt (1811-1886) inicia uma ligação amorosa 
com Marie Catherine Sophie, viscondessa de Flavigny, 
conhecida como Condessa Marie d´Agoult (1805-1876), do nome 
de seu marido, Charles Louis Constant d´Agoult. Como 
escritora, assinando com o pseudônimo de Daniel Stern, Marie 
d´Agoult é autora de vários romances e de uma Histoire de 
la Révolution de 1848 em dois volumes. Suas Memórias são 
um dos mais penetrantes documentos sobre a sociedade de 
corte parisiense após a Restauração. 
Em 1835, o casal se estabelece na Suiça, onde nascerão seus 
dois primeiros filhos, Blandine (1835-1862) e Cosima (1837-
1930), mais tarde esposa de Hans von Bülow e de Richard 
Wagner. Neste mesmo ano de 1837, Chopin dedica à Condessa 
Marie d´Agoult seus Estudos Op. 25. 
O ano de 1839 é importante para Liszt, então ainda mais 
conhecido como prodigioso pianista que como compositor. É de 
fato este o momento em que começa a compor seu estupendo 
Concerto n. 2 para piano e orquestra em lá maior, o primeiro 
cronologicamente, no qual abandona a forma-sonata e a 
tradicional estrutura Allegro – Adagio – Alegro, em 
benefício de um continuum em que se fundem seis 
movimentos dominados por um único tema, exposto pela 
clarineta desde os primeiros compassos.
É também o ano de sua viagem à Itália com a Condessa Marie 
d´Agoult, que dá à luz seu terceiro filho, Daniel (1839-
1859), promissor pianista, levado muito jovem pela 
tuberculose. Em Roma, Liszt apresenta-se a Ingres (1780-
1867), então diretor da Académie de France, com uma carta de 
de Louis-François Bertin, irmão de Bertin l´Aîné, modelo em 
1832 de um dos mais célebres retratos do grande mestre.
Veja: http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3628
Entre os dois artistas de idades tão diversas (Ingres é 31 
anos mais velho que Liszt) se estabelece uma relação de 
verdadeira amizade, como demonstra uma carta do compositor, 
de 1. de março de 1839, ao violinista Lambert Massart 
(discípulo de Kreutzer, a quem Beethoven dedicara em 1803 
sua “Sonata a Kreutzer”):
“Vejo com frequência M. Ingres, que me é muito amigável. 
Naturalmente, tocamos juntos. Você sabia que ele é muito bom 
no violino? Temos planos de rever todo Mozart e todo 
Beethoven”.
Quando o casal deixa Roma em 29 de maio de 1839, Ingres 
presenteia a Condessa Marie d´Agoult com este retrato de 
sublime espiritualidade, de uma solaridade não de todo 
isenta de suave melancolia, em suma, de uma sutileza 
psicológica comparável apenas à perícia e economia da 
execução. Em meio à abundante retratística de Liszt, com 
razão Hans Naef qualifica este retrato como “o mais fino 
jamais feito dele” (the finest likeness ever made of 
him).
De passagem por Lucca, Liszt faz-se retratar na Villa 
Massimiliana por Henri Lehmann, um discípulo de Ingres, que 
terminará o retrato em Roma (hoje em Paris, Musée 
Carnavalet), seguramente inspirado por esse desenho. Lehmann 
vivia em Roma desde 1838 como estreito colaborador de 
Ingres, que de seus préstimos se vale, por exemplo, no 
“Retrato de Luigi Cherubini e a Musa da Poesia Lírica”, e 
será em 1843 o autor de um conhecido retrato da Condessa 
Marie d´Agoult.
Hans Naef cita uma carta de Liszt à Condessa d´Agoult, de 19 
de outubro de 1839, na qual reporta e subscreve uma opinião 
de um discípulo de Ingres, Adolf von Stürler, acerca do 
mestre:
“Stürler diz que os pintores de hoje em dia fazem um grande 
alarde em torno de M. Ingres. E no entanto ele é um pouco 
criticado por fazer as pessoas trabalhar demais para 
entendê-lo e admirá-lo. Ou seja, para se compreender e 
apreciar M. Ingres, deve-se reunir tudo o que se sabe, tudo 
o que se aprendeu e toda sua experiência, de modo a se 
elevar ao nível de seu gênio. Ele gostaria que as pessoas o 
admirassem mais espontaneamente. (…) A observação 
impressionou-me pelo engenho”.
Em 1840, Liszt dedicaria à Monsieur Ingres, Membre de 
l´Institut, etc. sua transcrição para piano da 5ª e da 
6ª Sinfonias de Beethoven. Ainda vinte anos depois, em 1860, 
a admiração de Liszt por Ingres não diminuíra (embora a 
recíproca não fosse mais verdadeira), e ele pediu à sua 
filha, Cosima, para comprar um quadro do pintor para a 
Princesa Sayn-Wittgenstein, desde há muito sua companheira. 
O quadro, adquirido em um leilão do espólio de Alexander von 
Humboldt, era nada menos que o célebre François I reçoit 
les derniers soupirs de Léonard de Vinci, de 1818, hoje 
no Petit Palais de Paris.
Luiz Marques
30/01/2012
Bibliografia:
1971 – H. Naef, Ingres in Rome:A Loan Exhibition from the 
Musee Ingres, Montauban and American Collections. Catálogo 
da exposição.  International Exhibitions Foundation. 
1999 – H. Naef, in G. Tinterow, P. Conisbee, Portraits by 
Ingres. Image of an Epoch. Catálogo da exposição. New York, 
The Metropolitan Museum of Art, pp. 344-345.

