Entre os treze painéis em mosaico sobre fundo ouro, de idade 
teodoriciana (493-526) e de temática evangélica, que se 
estendem ao longo do registro mais alto da parede esquerda 
da nave de Sant´Apollinare Nuovo em Ravenna (outros treze 
painéis se sucedem sobre a parede direita), conta-se esta 
cena da Separação das Ovelhas e dos Cabritos. 
Trajando um peplum de púrpura com uma frisa em ouro 
(o clavus), à imagem da veste do Imperador, o Cristo 
imberbe senta-se sobre um rochedo alto que lhe serve de 
trono judiciário. Com a mão direita, ele acolhe três ovelhas 
brancas, mas não estende a outra mão para os três animais 
(cabritos, carneiros ou ovelhas cinzas e negras) que estão à 
sua esquerda. A secundá-lo, estão dois anjos: o anjo da luz 
(em vermelho, símbolo do fogo) e o anjo das trevas (em azul, 
símbolo da noite). 
Martin Zlatohlávek (2001) mostra que essa dualidade 
cromática reflete a natureza do corpo espiritual dos anjos, 
elaborada no Antigo Testamento e na literatura patrística. 
Assim, lê-se na versão latina do Salmo 104, onde se invoca 
Iahweh “que fazes dos ventos teus mensageiros, das chamas de 
fogo os teus ministros!” (Qui facis angelos tuos spiritos 
et ministros tuos ignem urentem). A ideia de que os 
anjos possuem cores relacionadas a suas diversas naturezas é 
retomada por São Gregório (Moralia II,3), João 
Damasceno (De fide orthodoxa II, 3), S. Agostinho e 
a Carta anônima atribuída a Barnabé por Clemente de 
Alexandria, conhecida como Carta de Barnabé (130c.):
“Há dois caminhos da doutrina e da potência, o caminho da 
luz e o caminho das trevas, que se diferenciam em diversos 
aspectos. Em um se instalam, como portadores da luz, os 
enviados do Senhor, no outro os enviados de Satan. O 
primeiro é o mestre da eternidade das eternidades, o segundo 
é o príncipe deste tempo de iniquidades”.
A fonte textual da cena é a parábola de Mateus 25, 31-41, 
mais antiga matriz canônica do Juízo Final, reportada e 
discutida no texto relativo ao tampo do Sarcófago 
Stroganoff, no Metropolitan Museum de New York, de 300c., 
primeira figuração conservada dessa passagem. Veja-se, aqui:
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=2388
e
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3512
Luiz Marques
20/11/2011
Bibliografia:
1975 – P.G. Walsh (trad.), The Poems of St. Paulinus of 
Nola. New York: Newman Press.
1989 – G. Hellemo, Adventus Domini. Eschatological 
Thought in Fourth Century Apses and Catecheses, Leiden: J. 
Brill, p. 91
2000 – Y. Christe, Il Giudizio universale nell´arte del 
Medioevo. ed. italina aos cuidados de M.G. Balzarini. Milão: 
Jaca Book, pp. 15-16.
2001 – M. Zlatohávek, C. Rätsch, C. Müller-Ebeling, Le 
Jugement dernier. Paris: La Bibliothèque d´art, p. 50.

