(conclusão do comentário à imagem principal do Sarcófago 
Stroganoff)
Por outro lado, a onipresença da figura do Cristo como Bom 
Pastor na iconografia primitiva do Cristo remonta a Ezequiel 
34, 11-23 e baseia-se obviamente, no que se refere ao Novo 
Testamento, na famosa parábola do ladrão e do pastor (João 
10, 1-18).
Mas ela é igualmente reforçada por sua contaminação com o 
tema clássico de Orfeu apascentando os animais, tal como no 
“Cristo como Orfeu com o syrinx de Pan”*, para citar um 
entre numerosos exemplos, no mosaico pavimental do século IV 
da Basílica de Teodoro em Aquileia.
Que a figura do Cristo como Bom Pastor confunde-se desde 
logo com a do Christus iudex é um fato documentado 
não apenas pelo já mencionado caráter judiciário de  
Ezequiel (34, 11-23), mas por outros documentos de época, 
dentre os quais ressaltam o Comentário de S. Jerônimo ao 
Evangelho de Mateus (4, 25) e os tituli que Pontius 
Meropius Paulinus (355-421), alias São Paulino de 
Nola, apôs aos mosaicos, outrora na abside da basílica de 
Fondi (entre o Lácio e a Campania), mosaicos executados sob 
sua iniciativa e direção. 
De fato, sob esse mosaico datável de 402 ou 403, em que se 
fundem a simbólica do Apocalipse e essa parábola de Mateus 
25, 31-41, S. Paulino de Nola diz que o Agnus dei é 
um quasi iudex que recusa os cabritos e acolhe as 
ovelhas:
Et quia praecelsa quasi iudex rupe superstat,
bisgeminae pecudis discors agnis genus haedi
circumstant solium laeuos auertitur haedos
pastor et emeritus dextra conplectitur agnos
“E porque ele se ergue sobre o alto rochedo como um juiz, há 
em torno de seu trono gado de dois tipos: cabritos em 
discórdia com ovelhas. O pastor dá as costas para os 
cabritos à sua esquerda e acolhe as ovelhas, que cumpriram 
com seu dever”
Retornando ainda como fonte textual de um mosaico de 
Sant´Apollinare Nuovo em Ravenna, executado sob Teodorico 
(454-526), o texto Mateus 25,31-41 pode ser considerado, 
assim, ao lado do Apocalipse de João e dos Apocalipses 
apócrifos, como a mais antiga matriz doutrinal da 
iconografia do Juízo Final. 
Luiz Marques
19/11/2011
Bibliografia:
1975 – P.G. Walsh (trad.), The Poems of St. Paulinus of 
Nola. New York: Newman Press.
1989 – G. Hellemo, Adventus Domini. Eschatological 
Thought in Fourth Century Apses and Catecheses, Leiden: J. 
Brill, p. 91
2000 – Y. Christe, Il Giudizio universale nell´arte del 
Medioevo. ed. italina aos cuidados de M.G. Balzarini. Milão: 
Jaca Book, pp. 15-16.
2001 – M. Zlatohávek, C. Rätsch, C. Müller-Ebeling, Le 
Jugement dernier. Paris: La Bibliothèque d´art, p. 46.

