Registro inventarial: Sig. Cim. 15 (Cod. ms. 24)
Esta iluminura do Saltério de Würzburg-Ebrach (fol. 204r) 
ilustra a Salmo dos Mortos com uma representação do Juízo 
Final.
O Cristo pantocrator, coroado e com os estigmas, 
senta-se sobre um trono de mármore policrômico e acolhe com 
a mão direita os eleitos, dois deles com cabeças de ovelhas, 
alusivas à parábola da Separação das ovelhas e dos cabritos, 
em Mateus 25, 31-41. Em um phylacterium, lê-se uma 
frase dessa parábola:
Venite benedicti Patris mei 
(Vinde, benditos de meu Pai)
Em outro, lê-se:
Nos oves pascue tue Domine
(Nós, ovelhas de tua Páscoa, Senhor)
Um diálogo semelhante ocorre com as figuras à esquerda do 
Cristo, com cabeças de cabrito e o texto final da mesma 
parábola de Mateus. Outros dois phylacteria 
explicitam-na:
Ite maledicti in ignem aeternum
(Ide, malditos, ao fogo eterno)
A que os réprobos respondem:
Heu nobis quia inter haedos deputati sumus
(Ai de nós, pois fomos enviados entre os cabritos)
Tal diálogo dá uma preciosa indicação da existência, em 
inícios do século XIII, de tropos ou dramas sacros encenados 
na Igreja em certos momentos do calendário litúrgico.
A referida parábola de Mateus é a fonte doutrinária primeira 
da parousia, retorno escatológico do Cristo, cuja 
figuração precede entre os séculos IV e VII as 
representações do Juízo Final propriamente dito. Vejam-se, a 
título de exemplo:
1. o tampo do Sarcófago Stroganoff no Metropolitan Museum
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=2388
2. o detalhe central deste Sarcófago
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3512
3. um mosaico de Sant´Apollinare Nuovo em Ravenna
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3513
4. o Saltério de Stuttgart, fol. 6v, da Landesbibliothek de 
Stuttgart
http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3515
Embaixo, dentro de uma inicial “C” com a forma de um dragão 
que vomita a cabeça de um ancião, vêem-se a ressurreição dos 
mortos e um anjo que soa a trompa da hora extrema. 
Assiste-se, assim, com esta iluminura, a uma engenhosa fusão 
entre a tradição páleo-cristã das figurações da parábola da 
Separação das ovelhas e dos cabritos e dois elementos 
essenciais – a ressurreição dos mortos e o anúncio do anjo – 
da iconografia do Juízo Final, que se impunha então por toda 
a parte nos programas decorativos das igrejas góticas.
Luiz Marques
22/11/2011
Bibliografia
2001 – M. Zlatohávek, C. Rätsch, C. Müller-Ebeling, Le 
Jugement dernier. Paris: La Bibliothèque d´art, p. 53.

