Registro inventarial: inv. E 270
Esta ânfora com figuras vermelhas e alças retorcidas 
representa no lado A um rapsodo acompanhado, no lado B, por 
um aulista. Ela entra nas coleções do British Museum em 
1843, adquirida de Alexandrine Bonaparte, Princesa de 
Canino. Não se conhece a proveniência anterior.
Lado A: vestido com um himation que deixa descoberto 
seu ombro, o rapsodo barbado (a) ergue-se solene sobre um 
pedestal sobre o qual figura uma inscrição (KALONEI). 
Voltado para a direita, ele apoia o braço estendido sobre um 
cajado nodoso em um gesto grandioso e sua boca aberta entoa 
o hexâmetro: “Como uma vez em Tiryns”
Segundo a notícia do British Museum, trata-se possivelmente 
do início de um poema com o mito de Belerofonte, filho de 
Netuno e Eurínome (filha do rei de Megara), no qual a cidade 
de Tírintos ocupava uma grande importância. Tírintos, 
prezada por Homero por suas muralhas poderosas, foi uma 
cidade fortificada do período micênico, cujas ruínas distam 
15 kms a SE das de Micenas, na Argólida. Ao lado de Argos e 
de Micenas, Tírintos foi um centro importante da civilização 
micênica e era por vezes considerado o local de nascimento 
de Herakles (Hércules). O hexâmetro em questão poderia, 
alternativamente, aludir a um poema sobre este herói.
Lado B: um aulista coroado sobre um pedestal menor volta-se 
igualmente para a direita tocando seus dois aulos, atados 
por uma phorbeia.
O pintor de Kleophrades (ativo entre 505 e 475 a.C.) é um 
pintor ático de vasos com figuras negras e vermelhas, a quem 
se atribuem aproximadamente 150 vasos e fragmentos. Ele é 
nomeado segundo o nome de um poteiro, Kleophrades, filho de 
Amasis, que assina uma grande taça da Bibliothèque Nationale 
de France (inv. N. 535, 699). Trata-se provavelmente de um 
discípulo de Eutímides e de Eufrônios (Euphronios).
Ele traça com senso admirável de ritmo, equilíbrio e 
refinamento as cadências ritmicas do himation e da 
musculatura do rapsodo, bem como os ritmos da túnica do 
aulista, suavemente movida pelo vento.
Luiz Marques
28/12/2011
 Bibliografia:
1963 – J.D. Beazley, Attic Red-Figure Vase-Painters. Oxford, 
Cat. n. 183.15, 1632. 
1971 – J.D. Beazley, Paralipomena. Oxford, p. 340.
 1982 – L. Burn, R. Glynn, Beazley Addenda. Oxford, p. 93. 
1989 – T.H. Carpenter, T. Mannack, M. Mendonca, Beazley 
Addenda. Oxford, p. 187 .
1994 – W.D. Anderson, Music and Musicians in Ancient Greece. 
Ithaca, Prancha 5.
1996 – B. Cohen, “The Kleophrades Painter”. The Grove 
Dictionary of Art, vol. 32, ad vocem.
s/d – site do British Museum

