Registro inventarial: PN 23; inv. 936
A estátua porta uma inscrição na base: Veneri Felici… 
Sacrum/ Sallustia… Helpidus D.D., alusiva aos 
doadores, Sallustia e Helpidus.
Exumada em momento e local incerto, talvez nos arredores de 
S. Croce in Gerusalemme, e instalada no Cortile das estátuas 
já em 1509, ao lado do Laocoonte e do Apolo do Belvedere, a 
Venus felix cum alato Cupidine parvulo, tal como a 
chama Albertini em 1510, foi objeto de admiração por parte 
de viajantes e eruditos do século XVI, como Francesco 
Albertini, Grossino, Andrea Fulvio e o Anônimo veneziano. 
Este último descreve o grupo como composto de: figure 
bellissime, quanto è possibile a imaginarsi.
Esse duplo retrato mitológico foi reconhecido, ora como o de 
Faustina Menor, esposa de Marco Aurélio e de um de seus 
filhos, ora como o de Crispina, mulher de Cômodo, ora ainda, 
como parece mais provável a Giandomenico Spinola, como a de 
uma conhecida matrona romana, de nome Sallustia. 
A obra gozava no segundo decênio do século XVI de prestígio 
equiparável ao do Apolo do Belvedere e de pouco inferior ao 
do Laocoonte. O fato não deixa, hoje, de surpreender, dada a 
qualidade não particularmente elevada da obra. Mas se 
explica em parte por sua presença muito precoce nas coleções 
pontifícias. Na Vita di Bramante (1568), Vasari nota que até 
a morte de Júlio II a Vênus compunha com estas duas 
esculturas o núcleo fundamental do seu antiquario delle 
statue antiche:
Fecevi [Bramante] ancora la testata, che è in Belvedere 
allo antiquario delle statue antiche, con l´ordine delle 
nicchie; e nel suo tempo vi si messe il Laoconte, statua 
antica rarissima, e lo Apollo e la Venere; che poi il resto 
delle statue furon poste da Leone X, come il Tevere e ´l 
Nilo e la Cleopatra, e da Clemente VII alcune altre, e nel 
tempo di Paulo III e di Giulio III fattovi molti acconcimi 
d´importanzia con grossa spesa
“Fez ainda [Bramante] a fachada que está no Belvedere, no 
antiquário das estátuas antigas, com a ordem dos nichos; e 
no seu tempo aí se colocou o Laocoonte, estátua antiga 
raríssima, e o Apolo e a Vênus; pois o resto das estátuas 
foram colocadas em seguida por Leão X, como o Tibre e o Nilo 
e a Cleópatra, e por Clemente VII algumas outras, e no tempo 
de Paulo III e de Júlio III foram ali feitas reformas de 
vulto com grande despesa”.
É preciso manter em mente que se o Laocoonte beneficiava-se 
das celebérrimas considerações de Plínio, a Venus felix 
podia ser associada a uma passagem igualmente célebre do 
naturalista sobre a Vênus de Cnido de Praxíteles, esculpida 
por volta de 340 a.C. e proclamada no livro XXXVI como o 
mais emblemático dos modelos estatuários do mundo antigo.
A admiração por aquela escultura antiga fora há pouco 
reavivada por Francesco Colonna no Hypnerotomachia 
Poliphili (I, vii), o qual relembra a potência erótica 
da estátua de Cnido, pela qual os humanos se apaixonavam. 
Giovanni Francesco Pico della Mirandola compôs em 1512 seu 
De Virgine et Cupidine expellendis carmen, um poema 
de vituperação a esta estátua, contrapondo-lhe o modelo da 
Virgem. O poema de 325 versos foi publicado em 1513 com uma 
epístola endereçada a Lilio Gregorio Giraldi.
Luiz Marques
04/VII/2012 
Bibliografia:
1510 – F. Albertini, Mirabilia Romae [Romae 1510], editum 
Francisco Albertino Florentino. Lugdini : Romani Morin, 
1520, cap. De statuis ac picturis, p. 36: “Apud quam [statua 
Apollinis] est Veneris statua cum alato Cupidine parvulo 
(…)”. 
1513 – Andrea Fulvio, Antiquaria Urbis, Roma, fol. 36v. 
1513 – Giovanni Francesco Pico della Mirandola, De Venere  
et Cupidine expellendis Carmen. Roma: Iacomo Mazochio. 
1523 – Anônimo Veneziano, Sommario del Viaggio degli oratori 
Veneti che andarono a Roma  dar obedienza a Papa Adriano VI. 
1951 – E.H. Gombrich, “Hypnerotomachiana”, Journal of the 
Warburg and the Courtauld Institutes, XIV, pp. 120-125, 
reeditado em Symbolic Images. Studies of Art of the 
Renaissance, London, 1972.
1970 – H. H. Brummer, The Statue Court in the Vatican 
Belvedere. Estocolmo, 1970, pp. 123-129 e Appendix I, 1-3, 
pp. 265-266.
1996 – G. Spinola, Il Museo Pio Clementino. Città del 
Vaticano, vol. I, p. 97.

