Localização inventarial: inv. 1890: n. 8539
O tema da cigana aparece na pintura da Itália padana e vêneta por volta destes anos, talvez já na Tempestade de Giorgione. Esta cigana adolescente com seu semblante enternecedor e seu olhar límpido e luminoso sobre um fundo preto, nada tem das leitoras de boa fortuna do final do século. E entretanto nesta diminuta obra, pintada talvez em Veneza ou já em Cremona (onde está em 1506), Boccaccio Boccaccino (1465c.-1525) anuncia já o veio naturalista que dominará sucessivamente a pintura lombarda.
Não por acaso, Boccaccino opor-se-á, em sua estada romana de 1513-1514, ao cânon michelangiano que se impusera então na Itália central. Na página que dedica ao artista, Vasari não se esquecerá da heresia e deixará uma imagem inclemente de seus afrescos em S. Maria Traspontina.
Embora nascido e se formado em Ferrara, aparentemente sob a proteção de Ercole d´Este, e embora conheça bem a Veneza de Bellini e Giorgione, Boccaccino descende de uma antiga família de Cremona e é neste cidade, particularmente em sua catedral, que desenvolve o essencial de sua atividade.
A obra encontrava-se no século XVII nas coleções do Príncipe Leopoldo de´Medici. Para Gregori e Ballarin, a proximidade estilística com as Núpcias místicas de S. Catarina da Galleria dell´Accademia sugere uma datação em torno de 1505.
Luiz Marques
05/11/2010
Bibliografia
1957 – A. Puerari, Boccaccino, Milão
1991 – M. Tanzi, Boccaccio Boccaccino, Bergamo, Ed. dei Soncino, p. 60
1994 – M. Gregori, Paintings in the Uffizi and Pitti Galleries. New York, Bulfinch Press, p. 287